Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, abril 17, 2007

Celso Ming - O atraso dessas agências




O Estado de S. Paulo
17/4/2007

Ontem, o ministro da Fazenda Guido Mantega cobrou da agência Moody's mais rapidez no reconhecimento do grau de investimento da dívida soberana brasileira.

Agências de avaliação de risco (como Moody's, Standard & Poor's e Fitch) encarregam-se de examinar a qualidade de uma dívida. Trabalham com uma classificação alfanumérica. No caso da Moody's, a dívida sem risco de calote leva Aaa e vai baixando para Aa1, Aa2, Aa3... até C. Na tabela, a cotação de algumas dívidas.Enquanto um devedor não for confiável (a partir de Ba1), seus títulos são de grau especulativo (not prime). Daí para cima, são grau de investimento (prime), senha que abre a carteira dos investidores mais exigentes.

Até há alguns meses, a principal fonte de dólares eram as exportações e os Investimentos Estrangeiros Diretos (IED). Mas o movimento financeiro ganhou importância. Trata-se de notória operação de arbitragem com juros, que, no entanto, nada tem a ver com especulação.Quando se fala em arbitragem, a maioria das pessoas entende que é a tomada de empréstimos externos a juros baixos para trocá-los por reais e ganhar com a aplicação deles no mercado financeiro interno, onde os juros são bem mais altos.

As operações tratadas aqui são feitas para obtenção de capital de giro ou para investimento. Em três meses, as empresas brasileiras (entre as quais Vale, Sabesp, Cosan, Net e Sul América) captaram US$ 5,5 bilhões.Essas operações estão se multiplicando porque firmou-se a percepção de que o real continuará se valorizando. Essa relativa estabilidade reduz o risco cambial, que é a situação daquele que se endivida em dólares, os troca por reais, trabalha com o dinheiro e, quando paga a dívida, enfrenta uma desvalorização que exige mais reais por dólares devidos.Entre os fatores que reduziram esse risco estão o grande crescimento das reservas, a derrubada do risco Brasil, o achatamento da inflação, a perspectiva de maior crescimento do PIB e a expectativa de que está mais próxima a promoção da dívida brasileira a grau de investimento, que acabará derrubando os juros.Os bancos brasileiros já enfrentam maior concorrência no crédito. Até agora, trabalhavam na maior moleza, porque a sobra de recursos era reemprestada a empresas de excelente cadastro.Essas empresas têm hoje outras opções de suprimento de capitais baratos, como o lançamento de ações e a tomada de empréstimos externos. Sobra para os bancos o mercado de segunda linha, cujo atendimento está aumentando a concorrência no setor.O forte afluxo de financiamento externo parece mostrar que o mercado já está se antecipando às agências de análise de risco e vai obrigá-las a tirar o atraso.Mas os bancos que se cuidem. A forte entrada de dólares que se seguirá ao reconhecimento do grau de investimento vai obrigá-los a emprestar a juros ainda mais baixos.

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