Entrevista:O Estado inteligente

domingo, abril 08, 2007

China abre espaço para o Brasil Alberto Tamer


A China quer menos investimentos externos e decidiu também crescer menos. Por favor, senhores, não invistam tanto aqui, foi o estranho e quase patético apelo do Partido Comunista, em sua última reunião. Ao lado do apelo, vieram medidas práticas, que pouco têm feito para conter o crescimento. Na sexta-feira, a Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento previu que a economia do país vai crescer este ano entre 10,5% e 11%. A meta era 8%. Mas, voltando às medidas, a China aumentou o imposto cobrado das empresas estrangeiras, igualando-as aos 35% que as nacionais pagavam, e impôs um maior aperto monetário.

As duas decisões têm significado especial para o Brasil. Investimentos menores aos US$ 72 bilhões de 2005, com provável repetição desse resultado no ano passado, podem significar mais recursos disponíveis no mercado. E nós poderíamos atrair esses recursos.

O QUE PODEMOS FAZER

Aqui, há um bom campo de manobra para o Brasil. Evidentemente, os pontos-chave continuam sendo juros e câmbio. Mas, se tivermos regras consistentes, se dermos liberdade para as agências reguladoras, não como atualmente ocorre, abre-se uma nova oportunidade. Aqui entra também o fim do imposto em cascata e a necessidade de acabar com as travas ao exportador, o que nos leva a dizer que “exportamos impostos e eles exportam subsídios”.

Que não haja ilusões, o investidor virá para o Brasil pensando no mercado interno, sim, mas só a médio prazo. A exemplo do que acontece na China, querem exportar. Só assim o investimento se tornaria atraente e viável. Tudo isso não temos e poderíamos ter mais facilmente por meio de medidas administrativas. É só querer e não se deixar imbuir por nacionalismos retrógrados que condenamos em outros países e considerar como bem-vindos todos os que quiserem investir no País. Decididamente, não somos um país atraente para o investidor externo que prefere a China e outros emergentes.Temos agora esta sétima maravilha que é o álcool e a China precisa desesperadamente de combustíveis alternativos. É só agir.

Podemos tentar receber um pouco do que a China liberar este ano, com o apelo “por favor, invistam menos aqui”.

Paradoxal, mas faz sentido para quem carrega superávits comerciais - US$ 230 bilhões só com os EUA -, já recebeu nos últimos anos mais de US$ 700 bilhões e tem reservas passando de US$ 1 trilhão.

CRESCE MENOS, IMPORTA MENOS

Outro fato que nos afeta é a decisão do governo chinês de conter o crescimento. Como vimos nas últimas previsões, vai ser mais difícil do que segurar os investimentos externos. Mas, de qualquer forma, temos aqui uma dupla repercussão para nós. Com a retração americana, o crescimento da economia mundial vai diminuir e, por conseqüência, conter os fluxos comerciais e, assim, nossas exportações para a China tendem a crescer menos.

Entre 2005 e 2006, as exportações da China para o Brasil aumentaram 50%. Nossas vendas para os chineses, apenas 28,5%. Passamos de um superávit para um déficit. É importante se ater a esses números, pois a China representa hoje 5,7% das nossas exportações. O maior importador do Brasil continua sendo os EUA, mas nossas vendas para eles, que representavam 19,2%, hoje somam 18%. Ou seja, estamos vendendo menos para dois parceiros importantes.

Nesse cenário, precisamos reajustar nossa política comercial e, sem acanhamento, aproveitar a deixa chinesa e nos transformar em plataforma de exportação. É a única saída para expandirmos significativamente o mercado interno e a economia nacional. Mãos à obra antes que México, Índia, Leste Europeu e até a Rússia avancem ainda mais na nossa frente. Podemos atrair até US$ 50 bilhões em alguns anos e duplicar ou triplicar as nossas exportações. É só sair do relativo isolacionismo e tornar bem-vindo o capital estrangeiro, até mesmo para privatizações. Por que não?

*E-mail: at@attglobal.net

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