Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, abril 09, 2007

Chega de Cassetaspor José Negreiros

Certos recordes jamais serão batidos: só Chico Buarque é unanimidade, ninguém ganhará do Dream Team americano, Lula é imbatível nas urnas. Não adianta escolher o melhor adversário, arranjar o maior marqueteiro, fazer a campanha mais bem feita.

Não se trata de qualidade do discurso, de racionalidade dos argumentos, sequer de uso da verdade. Lula é hors concours. As razões que explicam o fenômeno são conhecidas, embora aquela que menciona a identificação do eleitor com um dos seus me pareça a mais consistente. Não se pode esquecer, no entanto, sua história, as três vezes que cruzou o Brasil, as três derrotas e o esgotamento do tucanato.

Lula, a exemplo de Juscelino, é daqueles líderes que aproveitam um momento, muitas vezes um mau momento, e levam a sociedade à superação. Não precisam de um Plano Real para isso. Têm a chama, o magnetismo, que em política se conhece como carisma. E isso explica tudo.

O Lula da eleição de 2002 é, além disso, uma explosão de talento político, segundo a contabilidade positiva e negativa. Por exemplo: a idéia de virar Lulinha Paz e Amor, é uma ficção genial; a decisão de tirar o PT da economia, outra; enfim, a imitação da política econômica de Fernando Henrique, então, é o máximo.

Mas as coisas deveriam parar por aí. A trapalhada do motim dos sargentos controladores de vôo ultrapassou todos os limites. Lula não tem a menor condição de continuar sozinho no comando. Não compreende, não gosta, não tem paciência, não tem nada a ver com a enormidade que é governar um país como o Brasil num momento tão estratégico quanto este.

Ele já fez o impossível: ganhar a eleição, apesar do atoleiro do mensalão. Agora é com os profissionais.

Na ausência de Dirceu e Palocci, os únicos da turma com vocação para o cargo, é preciso nomear imediatamente um primeiro-ministro para ficar com a parte chata da Presidência. Não precisa grande qualificação, basta ter disposição para encarar.

Não é mais possível continuar tratando a política, no geral, e a crise dos controladores de vôo, em particular, como um grande Casseta & Planeta, para tomar emprestada imagem do ministro da Justiça, Tarso Genro.

Corremos o risco de a qualquer momento Lula segurar um fio desencapado e mandar o país pelos ares. Alguém aí precisa agir. É caso de Conselho da República. No mínimo. Lula é inimputável.

José Negreiros é jornalista (www.josenegreiros@terra.com.br)

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