Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, abril 04, 2007

Celso Ming - Sem medo de importar




O Estado de S. Paulo
4/4/2007

As primeiras observações sobre o comportamento da balança comercial (exportações menos importações) de março puseram ênfase na tendência à redução do superávit obtido ao final de cada ano.

No período de 12 meses terminado em março, as importações saltaram 26,8% enquanto as exportações cresceram a um ritmo menor, de 17,5%. O superávit em 12 meses ficou em US$ 45,5 bilhões, enquanto em março do ano passado estava em US$ 45,7 bilhões.

É arriscado tirar conclusões a partir do comportamento em um único mês. Basta que a Embraer fature mais aviões, que a Petrobrás exporte mais combustíveis ou que a cotação da soja dê um salto para que esses números se revertam. O gráfico mostra que o saldo em 12 meses sobe e desce de mês para mês. E, dado mais relevante, a esse ritmo de crescimento, as importações só chegarão a se encontrar com as exportações em cinco anos.

Não há nada errado em que as importações cresçam mais do que as exportações. Ao contrário, para apressar o ajuste do câmbio é desejável que cresçam substancialmente mais.

As estatísticas do primeiro trimestre dão uma boa idéia da qualidade das importações. O brasileiro não está comprando badulaques. Nada menos que 70,9% das importações são máquinas (bens de capital), matérias-primas e produtos intermediários. Esse segmento vem crescendo a 25%. Isso mostra que o sistema produtivo está se preparando para aumento futuro de produção. É nesse sentido que deve ser entendida a afirmação do novo secretário de Acompanhamento Econômico da Fazenda, Nelson Barbosa, de que a valorização cambial é um problema bom.

Também ainda não se nota grave dificuldade para exportar em conseqüência da falta de câmbio. As exportações de manufaturados, o segmento mais sensível ao câmbio, pesam 54,6% na pauta e seguem crescendo 13,2%. O novo ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, tem razão quando diz que a prioridade deve ser deslocada para atendimento do mercado interno porque as exportações vão bem.

No mais, as cotações do dólar no câmbio interno seguem ladeira abaixo. Ontem resvalaram para R$ 2,037, com queda de 0,54%.

É perda de tempo insistir em que o real se valoriza porque empresas e bancos estariam intensificando as operações de arbitragem com juros (tomar dinheiro a juros baixos lá fora para aplicar aqui dentro a juros mais altos).

Ignorar as operações de arbitragem também seria bobagem. Mas elas não são decisivas. O dólar está derretendo porque estão sobrando dólares lá fora, porque as exportações continuam exuberantes e porque a economia brasileira vai atraindo cada vez mais capitais não para especular com juros, mas porque os fundamentos estão cada vez mais sadios.

As reservas fecharam dia 2 muito perto dos US$ 110 bilhões. E quanto mais o Banco Central se dispuser a amontoar reservas mais recursos chegarão ao Brasil para desfrutar do bom momento da economia local.

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