O Estado de S. Paulo |
5/4/2007 |
O Banco Central vem, sim, cometendo erros na avaliação do comportamento dos preços e por isso fixa os juros acima do que seria preciso para garantir o centro da meta de inflação que, neste ano, é de 4,5%. Mas esse atraso é irrelevante na valorização do real. A demissão do desafinado secretário de Política Econômica da Fazenda, Júlio Sérgio Gomes de Almeida, não vai arrefecer as críticas, agora não mais com o argumento de que juros altos travam o crescimento, mas de que estão derrubando o dólar a níveis incompatíveis para a produção. No ano passado, a meta de inflação foi de 4,5%, mas os preços subiram apenas 3,1%. Ou seja, os juros poderiam ter sido mais baixos. Nesse caso, mais dinheiro na economia puxaria os preços, mas a inflação ainda assim ficaria na meta. Neste ano, o problema se repete. As projeções apontam uma inflação à altura dos 3,8%, o que parece indicar que os juros podem ser mais baixos sem prejuízo para a política de metas. A defesa do Banco Central é tecnicamente irretorquível. A economia não é uma lancha que responde em segundos a uma manobra do piloto. É um transatlântico que tem de preparar uma curva milhas antes. Uma mudança nos juros leva entre quatro e seis meses para produzir efeito e há sempre fatores fora de controle, como mudanças dos ventos internacionais ou altas ou baixas repentinas em commodities importantes, como o petróleo. Por isso, na execução do sistema de metas, é raro a mosca do alvo ser atingida. Como os desvios são normais, existe o intervalo de tolerância, que no Brasil é de 2 pontos porcentuais. Ou seja, neste ano, a inflação estará dentro da meta se ficar no intervalo entre 2,5% e 6,5%. Assim, não haveria do que reclamar na política de juros se a inflação ficasse ao redor dos 3,5%, como apontam as projeções. Enfim, erros assim do Banco Central são do jogo. Mas o Banco Central tem cometido erros que poderia evitar. Um deles é subestimar o efeito China, a queda dos preços dos industrializados como efeito do aumento da oferta de mercadorias asiáticas obtidas a baixo custo de mão-de-obra e de capital. Outro, relacionado com o anterior, é subestimar o efeito câmbio no mercado interno. A queda do dólar conjugada ao aumento das importações está murchando a inflação. Por subestimar esses dois dados, o Banco Central erra nas projeções dos preços administrados, cuja trajetória é determinada por regulamentações e não pela lei da oferta e da procura. Na execução da política monetária dos dois últimos anos, acumularam-se indícios de erros assim, nem sempre corrigidos. Mas, mesmo que o Banco Central esteja atrasado, os juros altos não explicam a queda do dólar. Esse atraso não seria mais do que de um ou dois pontos porcentuais nos juros básicos (Selic). E, mesmo se o Copom reduzisse a diferença, o efeito dos juros sobre o câmbio seria pequeno, porque são outros os fatores que vão derrubando o dólar. O mergulho do prêmio de risco (agora a 165 pontos) tem mais a ver com a valorização do real do que os juros. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quinta-feira, abril 05, 2007
Celso Ming - O atraso dos juros
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