A safra 2006/2007 deve ser mesmo recorde. Foi isso que se viu nos números que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou quarta-feira. A produção física deverá chegar a 131,1 milhões de toneladas, 8,6% maior do que a safra passada e 6,4% superior ao recorde de 2003.
Esses números são coerentes com os colhidos pela consultoria Agroconsult em expedição técnica, o Rally da Safra, que indicam uma produção de 133,6 milhões de toneladas, como informa o coordenador, André Pessôa.
A boa notícia não termina aí. Desta vez, o aumento físico da safra conjuga-se com a alta das cotações das commodities agrícolas. Em termos práticos, a renda média do produtor deve ter um salto de 14%. O resto da economia tirará proveito desse aumento do poder aquisitivo do interior.
O clima bom ajudou na obtenção dos resultados e a pequena variação do dólar no câmbio interno colaborou para que os produtores começassem a recuperar a renda perdida em 2005 e 2006, anos de forte crise no setor.
O recorde anunciado não elimina os problemas. A falta de capacidade de armazenamento é um deles. Domingo passado, a fila de caminhões no Porto de Paranaguá chegou a 20 km. A capacidade nacional, segundo a Conab, é de cerca de 122,2 milhões de toneladas - menor do que a produção. O ideal é que seja 20% maior.
A responsável pela área na Conab, Denise Deckers, observa que a situação só não é mais grave porque a produção não é toda colhida ao mesmo tempo, porque parte dela é exportada e porque a capacidade de armazenamento dentro das propriedades rurais vem aumentando. Era de 4% em 2000 e está hoje nos 15%.
As estruturas de armazenagem estão mal distribuídas. Enquanto no Rio Grande do Sul a capacidade é de 160,65%, em Mato Grosso é de 65,27%. “Os maiores gargalos estão em regiões de fronteira agrícola, onde a expansão tem sido mais forte e não houve investimentos suficientes em armazenagem”, explica a engenheira agrônoma Aline Zanão, do Sistema de Informações de Armazenagem da Esalq-Log.
Também faltam máquinas. Segundo Rasso von Reininghaus, gerente nacional de vendas da John Deere, há capacidade ociosa na indústria de máquinas, mas a reação dela não é tão rápida quanto a virada da demanda. É o que Fábio Piltcher, gerente de marketing da Massey Ferguson, diz: “Há uma cadeia de fornecedores de componentes para as máquinas que precisam se adequar à nova demanda.”
Dados da Anfavea mostram que, nos três primeiros meses do ano, a venda de máquinas agrícolas foi de 7,2 mil unidades. Em igual período de 2006 foram só 5,8 mil. Enquanto isso, a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) confirma que em janeiro houve crescimento de 39,7% nas vendas em comparação com janeiro de 2006.
Nesse ambiente de safra recorde e preços em alta, problemas com oferta de armazenagem e de máquinas são problemas bons.
E-mail: celso.ming@grupoestado.com.br