Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, abril 06, 2007

As implicações do novo PIB

Antonio Corrêa de Lacerda*

A análise dos novos dados das contas nacionais, recentemente divulgados, retrata uma economia diferente da que se conhecia. As transformações dos últimos anos mudaram significativamente a estrutura econômica brasileira, e era preciso considerá-las. Mérito do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), essa instituição pública tão prejudicada pela crise do Estado brasileiro.

Considerando a nova base, o Produto Interno Bruto (PIB) - o valor agregado da produção do País - brasileiro nos últimos cinco anos cresceu a média de 3,2% ao ano (2,5% pela metodologia anterior), atingindo, em 2006, R$ 2,332 trilhões (ante R$ 2,227 trilhões).

A taxa de investimentos dada pela Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), em 2006, foi de 16,8%, bem abaixo da anterior conhecida de 20,5%. A má notícia é que estamos investindo bem menos do que os números anteriores revelavam. Mas a boa notícia é que houve uma melhora da relação capital-produto. Estamos produzindo mais por unidade investida.

Se pelos números anteriores era preciso atingir uma FBCF de 25% do PIB para sustentar um crescimento econômico anual de 5%, os novos dados indicam que, para atingir o mesmo nível de crescimento, um investimento próximo de 22% será suficiente. Isso não muda o desafio de ampliar os investimentos em 4 a 5 pontos porcentuais do PIB, o que requer considerável esforço.

Após a divulgação do novo PIB, também houve quem concluísse que ficaria mais difícil cumprir a meta de superávit primário (4,25% do PIB). Trata-se, evidentemente, de uma leitura equivocada. O superávit exigido para evitar a expansão da relação dívida-PIB continua de R$ 95,9 bilhões (3,83% do novo PIB). Assim, a economia exigida continua a mesma em números absolutos, embora relativamente represente menos. O mesmo ocorre com a relação dívida pública líquida-PIB, que era de 50% e caiu para 46%, e a carga tributária-PIB, que se reduziu de 38% para 34%.

Os novos números indicam que a economia brasileira é mais fechada do que se imaginava? De fato, uma comparação entre corrente de comércio (exportação + importação) e PIB, que caiu de 23,9% para 21,5%, pode corroborar essa visão (ver Economia brasileira é a mais fechada entre os emergentes, O Estado de S. Paulo, 31/3, B5). No entanto, uma análise mais aprofundada revela exatamente o contrário. A parcela do PIB que o fez aumentar 10% em volume não veio do setor industrial ou de qualquer atividade comercializável com o exterior. Deveu-se a uma reclassificação do peso de setores de serviços, financeiros, administração pública, etc.

Portanto, uma análise mais realista deve considerar, por exemplo, a relação entre importações e a produção da indústria de transformação, que, segundo dados do BNDES (Visão do Desenvolvimento nº 26), subiu de 16,9% em 2002 para 19% em 2006. Ou seja, por esse critério a economia está mais aberta, especialmente nos setores intensivos em trabalho, como têxtil, vestuário, calçados e móveis, por exemplo, setores prejudicados pela valorização do real e a crescente concorrência (desleal) dos chineses.

Portanto, temos algumas conclusões, a partir dos novos dados:

A taxa de crescimento da economia brasileira nos últimos cinco anos, embora ainda aquém da média mundial, é 28% maior do que a que se conhecia (3,2%, ante 2,5% ao ano);

o PIB brasileiro de 2006 é R$ 105 bilhões (US$ 51,5 bilhões) maior, quase o equivalente aos PIBs de Equador (US$ 35 bilhões), Bolívia (US$ 10 bilhões) e Paraguai (US$ 8 bilhões) somados;

os novos dados reiteram a posição do Brasil entre as dez maiores economias do mundo;

a produtividade está crescendo acima do que se esperava, o que permite que a economia cresça mais, com menor investimento proporcional;

a indústria perdeu participação relativa no PIB, de 36,1% para 27,7%, na nova metodologia;

em contrapartida, aumentou a participação dos serviços, de 56,3% para 66,7%;

o Brasil está mais próximo da classificação de “grau de investimento” pelas agências de classificação de risco, basicamente por causa do maior crescimento econômico e menor relação dívida pública-PIB.

*Antonio Corrêa de Lacerda, doutor em economia pela Unicamp, é professor doutor da PUC-SP e autor, entre outros livros, de Globalização e Investimento Estrangeiro no Brasil (Saraiva). E-mail: aclacerda@pucsp.br

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