Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, abril 13, 2007

Celso Ming - Câmbio torto




O Estado de S. Paulo
13/4/2007

Se o câmbio está torto, o que fazer para desentortá-lo?

Examinadas as respostas, se vê que não há proposta. A caixa vem cheia de reclamações, sem sugestões aproveitáveis de como virar o jogo. Mas há um lugar comum nessas críticas: o de que, para ter um câmbio equilibrado, é preciso derrubar os juros.

Não há como negar que o real está valendo mais do que o desejável. Notem que isso não é o mesmo que dizer que o real está sobrevalorizado, porque essa conta é complicada e sujeita a reparos. Para garantir que o câmbio está ou não valorizado é preciso eleger um padrão, que varia de acordo com o critério adotado.

O real está valendo mais do que o desejável na medida em que, nas atuais condições, para estimular a produção industrial e dar competitividade ao produto brasileiro, seria bom inverter ou deter sua alta ante o dólar.

A idéia de que os juros precisam cair para consertar o dólar tem três defeitos. Aqui vão eles:

O primeiro é de origem. Parte do pressuposto errado de que o principal fator da valorização do real são as operações especulativas (arbitragem) com os juros, cujo principal efeito é atrair dólares ou evitar sua saída. O excesso de moeda estrangeira derruba as cotações no câmbio interno, como o gráfico mostra, apesar das compras do Banco Central.

Essas operações existem, sua importância não pode ser desconsiderada, mas não explicam o que acontece. O superávit comercial, de US$ 46,1 bilhões no ano passado, e o mergulho do prêmio de risco Brasil para a casa dos 155 pontos explicam mais.

O segundo defeito é achar que os juros mais importantes para o sistema produtivo sejam os determinados pelo Copom (a Selic). A maior entrada financeira de dólares acontece porque os juros estão baixos lá fora e há certa estabilidade no câmbio, o que reduz os riscos. Assim, tomar empréstimos externos não tem nada a ver com especulação. A maior parte das empresas que toma empréstimos externos está só evitando os juros altos na ponta do crédito, que pouca ou quase nenhuma variação vêm tendo em relação à Selic. Esta continuará caindo e pode até cair mais rapidamente do que agora. Mas a entrada desses dólares não vai se alterar.

O terceiro e definitivo defeito é de modelo. Quem pede a derrubada dos juros para ajustar o câmbio está matando o sistema de metas de inflação. No dia em que passasse a calibrar os juros para obter resultado no câmbio, o Banco Central estaria demolindo o sistema sem colocar outro no lugar. Seria como pretender desentortar os arcos invertidos da Catedral de Brasília. É outro projeto e outro arquiteto.

Alguns economistas afirmam que os juros poderiam ser mais baixos, sem prejuízo para a meta. E é provável que seja verdade. Mas não seria o corte de mais um ou dois pontos na Selic que acertaria o câmbio. Para isso, seria preciso passar o facão mais embaixo, o que, outra vez, exigiria o abandono do sistema de metas.

Enfim, não basta resmungar contra o câmbio. É preciso apresentar propostas aproveitáveis para endireitá-lo.

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