Simplismo e imprudência não são marcas do governo Lula apenas no trato do caso dos controladores de vôo.
A condução dada pelo governo brasileiro ao processo de entrada da Venezuela no Mercosul e a leniência com que assiste ao atropelamento das regras do bloco pelo presidente venezuelano Hugo Chávez também decorrem do trato simplista e imprudente que o governo Lula vem dando a essas manobras. O desfecho não pode ser bom.
Agora solidamente instalado no Mercosul, Chávez opera para solapar os interesses do Brasil no Hemisfério. Os ataques publicados duas vezes em menos de uma semana no diário Granma, do Partido Comunista Cubano, em que o comandante cubano Fidel Castro condenou o programa do etanol por destruir produção de alimentos e matar de fome 3 bilhões de pessoas, tiveram inspiração (e apoio) chavista.
Há dois anos, Chávez ainda se contentava com ridicularizar o presidente Lula quando este passou a apoiar o biodiesel. Em março de 2005, em Ciudad Guayana (Venezuela), por exemplo, Chávez chamou Lula de “el rey de la mamona” e, de lá para cá, só atacou o programa do etanol.
Ele já disse que “os biocombustíveis são absolutamente irracionais e antiéticos porque usam as terras de qualidade, capazes de fornecer alimentos, para produzir combustíveis destinados aos veículos dos ricos”.
Chávez não esconde que compre apoio dos vizinhos com parte do faturamento obtido com a alta do petróleo. Adquiriu emissões de títulos argentinos que tinham micado com o calote da dívida e está apoiando com recursos e assistência técnica a nacionalização do setor de petróleo na Bolívia e no Equador.
Agora, planeja criar um banco de fomento para supostamente financiar obras de infra-estrutura na América do Sul. Mas seu verdadeiro objetivo é, outra vez, comprar influência política na vizinhança.
Por conta própria, Chávez já tomou suas decisões. Deu a essa instituição o nome de Banco del Sur; impôs (como não poderia deixar de ser) sua sede em Caracas; definiu que seu capital inicial terá US$ 7 bilhões, a ser subscrito com reservas dos países sócios. No modelito venezuelano, o Brasil entra com mais capital e deixa as operações para os manda-chuvas de Caracas.
Demorou, mas o presidente Lula entendeu a jogada e preferiu espiar o jogo, por enquanto do lado de fora. O projeto brasileiro descarta novo banco com funções de fomento. Prefere reforçar as instituições de crédito já existentes no Continente, como o Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia do Prata (Fonplata) e a Corporação Andina de Fomento (CAF).
No início do seu governo, o presidente Lula não escondia sua admiração pelo presidente venezuelano é até o chamou de “centroavante matador”. Mas a cada dia crescem as divergências entre eles. Chávez não esconde que despreza a Comunidade Sul-Americana de Nações (Casa), apoiada por Lula, e cuspiu fogo quando da celebração da aliança estratégica entre Estados Unidos e Brasil para desenvolvimento do etanol.
O processo e formatação desse Banco del Sur vai aprofundar as divergências. A conferir.
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