As primeiras declarações do novo ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, deixaram os empresários desapontados.
Em síntese, Miguel Jorge disse cinco coisas: (1) não foi nomeado ministro para defender empresários, “especialmente os incompetentes, ineficientes e improdutivos”, mas para defender o desenvolvimento, a Indústria e o Comércio; (2) não há o que fazer para impedir a valorização do real; (3) para enfrentar o câmbio baixo, “alguns setores terão de se reinventar”; (4) a indústria precisa ganhar eficiência e produtividade e parar de se pendurar em favores do governo; e (5) setores mais castigados pelas vicissitudes da economia poderão, sim, obter alguma desoneração tributária, “mas isso é medida paliativa”, não é a solução definitiva.
Ficou claro nessas primeiras intervenções do novo ministro que o jeito mudou. O ministro anterior, Luiz Furlan, foi um crítico atroz do governo Lula - embora dele tenha feito parte. Só no final de sua administração pegou mais leve na política cambial e na política de juros.
Miguel Jorge faz questão de mostrar que vai tocar a mesma partitura do presidente Lula e que prefere brigar por políticas e não por desonerações tributárias localizadas e temporárias.
Os empresários não gostaram porque entendem que precisam mais de ação do que de sermão. É aí que mora o vício. Subsiste na cultura da administração pública do Brasil a idéia de que alguns setores do governo têm função preponderantemente corporativa. Assim, o Ministério do Trabalho deve defender os trabalhadores; o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio deve defender os empresários; e o Ministério da Agricultura deve defender o agronegócio.
É um traço que provém do governo Vargas, que tinha imprimido à sua administração o sistema corporativista inspirado no modelo fascista.
Por mais que algumas coisas tenham se modernizado no Brasil, a expectativa dos empresários continua sendo a de que o ministro do Desenvolvimento esteja lá para atender aos pleitos do setor. O que o novo ministro está dizendo é que está empenhado em defender e executar políticas de governo, e não em operar como despachante de interesses corporativos.
Se isso vai ser assim é o que ainda se há de ver. O que dá para adiantar é que este não deixa de ser um bom começo.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, não pensa exatamente assim. Embora mostre cada vez mais afinação na condução da política macroeconômica, não esconde certa predileção por medidas compensatórias.
Já anunciou que pretende erguer as tarifas alfandegárias de três setores (e só deles), para contrabalançar perdas de competitividade causadas pela valorização do real (que atinge toda a economia).
Também avisou que vai propor isenção de CPMF em algumas operações de crédito. Mas, até agora, não explicou por que, em vez de estendê-los a todos, vai repassar esses benefícios só a segmentos escolhidos a dedo.
Isso é bem mais do que questão de estilo.
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