Entrevista:O Estado inteligente

domingo, abril 15, 2007

AUGUSTO NUNES Sete Dias

Da selva para a estratosfera

Apreciador da obra de Wolfgang Amadeus Mozart, sobretudo dos bemóis e sustenidos de A flauta mágica, o patriarca dos Cavalcanti da floresta resolveu homenageá-lo no começo do século passado. E usou o sobrenome do gênio da música clássica para compor o nome do primeiro filho.

Convencido de que o pai tivera uma boa idéia, Mozart Cavalcanti resolveu estendê-la ao primogênito nascido em 1944, mas com retoques sugeridos pelas circunstâncias. Naqueles confins da Amazônia, deduziu, teria mais chances de subir na vida um prenome que suavizasse o forte acento austríaco com o melodioso sotaque da selva. Por isso, o menino se chamaria Mozarildo. Mozarildo Cavalcanti.

Funcionou. Diplomado em medicina, o jovem doutor não demorou a descobrir o mundo encantado da política. No consultório montado em Rio Branco, aprendeu o truque que faz receita virar voto. Em 1983, Mozarildo tornou-se deputado federal por Roraima, aos 39 anos. Reeleito em outubro passado, está no começo do segundo mandato como senador pelo PTB.

Como o pai, tanto gosta do próprio nome que o repassou ao único filho homem. Como o avô, parece gostar de música: um dos projetos apresentados pelo parlamentar isenta do pagamento de impostos os interessados na importação de qualquer espécie de instrumento fabricado no exterior.

Graças a essa idéia do senador, ficaram mais baratas viagens sonoras a bordo de violinos, oboés ou fagotes estrangeiros. Graças a outra, poderão ficar ainda mais caras as viagens de avião. A primeira matou uma taxa. A segunda cria um tributo. A mão que afaga é a mesma mão que tunga.

No fim de março, com a discrição de gatuna veterana, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara aprovou, e remeteu à deliberação do plenário, o projeto que acrescenta outra estação ao calvário dos flagelados dos aeroportos. No Brasil, o que parece insuportável sempre pode piorar.

Nos próximos 12 anos, determina o texto, todos os passageiros de todos os vôos nacionais pagarão uma tarifa que varia de R$ 3 a R$ 14 (depende da distância percorrida). Essa bolada adicional financiaria um Programa de Estímulo à Malha de Integração Aérea Nacional (o Pemian). Em matéria de nomes, os Cavalcanti continuam bastante inventivos.

"Esse dinheiro é necessário para a manutenção, no Norte, no Nordeste e no Centro-Oeste, de linhas aéreas que dão prejuízo", informa o senador com a candura de um inimputável. No mundo inteiro, só existem rotas aéreas se os interessados em utilizá-la bastam para pagar a conta do vôo. No Brasil redesenhado pela imaginação de Mozarildo, uma decolagem em Congonhas patrocinará um pouso na clareira no meio da mata.

O vírus da abulia degenerativa, que se alastrou pelos aeroportos em seis meses de apagão, mantém o rebanho mansamente à espera do vôo que não haverá. Ovelhas permanecem imóveis, mozarildos agem. Aviões seguem em terra. O preço da viagem continua a subir normalmente.


Cabôco Perguntadô
A secretária nacional da Habitação, Inês Magalhães, explica por que acha "legítimas" as invasões promovidas pelos sem-teto: "Não pode haver gente sem moradia num país onde outros têm imóveis demais". O advogado Roberto Teixeira, exemplifica o Cabôco, tem tantos que seu amigo Lula morou num deles, sem pagar aluguel, durante oito anos.
E sugere: se a companheira Inês quer tirar dos que têm muito para dar a quem nada tem, que tal começar pelo compadre do presidente?


Waldir é assim desde menino
Instado por parlamentares da oposição a exercer efetivamente as funções de ministro da Defesa, e cumprir com maior aplicação os deveres impostos pelo cargo, o habitualmente polido e tranqüilo Waldir Pires descontrolou-se. Deu socos na mesa, ergueu a voz, transferiu responsabilidades para a Aeronáutica, culpou subordinados, acusou meio mundo.
Homem de maneiras gentis, o bom baiano só perde a calma quando alguém lhe diz que é hora de trabalhar. Waldir é assim desde menino.

Vadiagem epidêmica
Quase um ano depois de denunciados pelo procurador-geral Antônio Fernando Souza, dezenas de integrantes da grande quadrilha federal - uma "organização criminosa sofisticada", na definição impecável do acusador - estão livres como táxis noturnos e, embora sem emprego fixo, cada vez mais ricos. O ministro Joaquim Barbosa, do STF, nem terminou de ler a papelada. Não seria má idéia enquadrá-los - todos - no Código das Contravenções Penais.
Por vadiagem.


Réu ansioso por um banco
Na presidência da Infraero, o deputado Carlos Wilson (PT-PE) desperdiçou na construção de shopping centers os bilhões reclamados por carências urgentíssimas - equipamentos anacrônicos, pistas insuficientes, controladores de vôo insatisfeitos. Em vez de ressuscitar Viracopos, fez de Congonhas um cemitério de escrúpulos. Mas o ex-comandante da Infraero tem defendido enfaticamente a CPI do Apagão.
Pelo que fez, tem culpa no cartório. Pelo que diz, medo de cadeia não tem.

Yolhesman Crisbelles
O troféu da semana vai para o gaúcho Milton Zuanazzi, presidente da Agência Nacional de Aviação Civil, por ter revogado durante audiência no Congresso, com duas frases (e mais de dois anos de antecedência), o apagão que há seis meses atormenta multidões de passageiros:

A crise no transporte aéreo brasileiro está longe de ser uma crise. Nós já a superamos em 2004.

Mudanças importantes decerto ocorreram naquele ano. Não na aviação civil. Só no cérebro de Zuanazzi.

15 / 04 / 2007

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