Entrevista:O Estado inteligente

domingo, abril 08, 2007

AUGUSTO NUNES Sete Dias

Um quarteto da pesada

"Peço respeito aos companheiros sacrificados", caprichou no sotaque o baiano Mário Negromonte, líder da bancada do PP na Câmara dos Deputados. "Temos que deixar no passado as coisas ruins. É preciso dirigir o carro sem olhar no retrovisor". Dispensados da contemplação de espelhos inconvenientes, os participantes da convenção do partido nem verificaram se algum camburão saíra em perseguição ao ônibus em que haviam embarcado os integrantes da nova executiva nacional. Estavam a bordo quatro "companheiros sacrificados".

É um quarteto e tanto esse formado pelo paulista Paulo Maluf, pelos pernambucanos Severino Cavalcanti e Pedro Corrêa e pelo paranaense José Janene. "Maluf foi eleito deputado federal com 800 mil votos", festejou Negromonte. "Acho que ele tem alguma coisa de bom". É possível. Tem certamente muita coisa de ruim, afirmam juízes, promotores e policiais do Brasil e dos EUA. Aos 75 anos, exibe um prontuário capaz de impressionar qualquer veterano de de Alcatraz. Só ficou preso durante 40 dias.

Comparado a um Maluf, o quase octogenário Severino lembra um aprendiz desastrado. Comandante do baixo clero no Legislativo, especializou-se em extorquir concessionários de restaurantes no Congresso. Eleito presidente da Câmara, resolveu aumentar o tamanho do "mensalinho". Denunciado por uma vítima, teve de renunciar em setembro de 2005. "Voltarei", avisou. "O povo me absolverá". Condenado nas urnas, os amigos acabam de absolvê-lo.

Pedro Corrêa, 60 anos, foi cassado pelo plenário da Câmara em março de 2006, quando ocupava a presidência do PP. Impedido de disputar a eleição de outubro, não precisou gastar na campanha um único centavo da fortuna embolsada nos bons tempos do mensalão: R$ 4,1 milhões. Também manteve intacto o prestígio entre os correligionários. "Vamos aplaudir nosso eterno presidente", chamou-o ao palco seu sucessor, o deputado potiguar Nélio Dias.

José Janene, 52 anos, nem precisou aparecer na convenção para transformar-se na estrela do dia. Ao reconduzi-lo à tesouraria o caçula do quarteto, o PP mostrou que sabe valorizar seus craques. Mensaleiro campeão, escapou da cassação e foi brindado com a aposentadoria por invalidez. Sonegador compulsivo, deve à Receita mais de R$ 15 milhões. É um inadimplente endinheirado. De 1993 para cá, Janene juntou um patrimônio de dar inveja a banqueiro.

Em paragens civilizadas, gente assim só seria candidata ao benefício da prisão-albergue. Em nações que erradicaram a praga da impunidade, participantes de encontros como o de terça-feira seriam processados por formação de quadrilha ou bando. Como o Brasil virou um país fora-da-lei, o PP faz parte da aliança governista, indica o ministro das Cidades e elege dirigentes que recomendam a mudança do nome do partido - e da sigla. Pena que PCC já tenha dono.



Cabôco Perguntadô
Além de especialista em vocalizar perguntas entaladas na garganta do povo, o Cabôco é um craque nas coisas do candomblé. Ficou impressionado com a foto que mostra Denise Abreu, diretora da Anac, fumando aquele charutão numa festança na Bahia enquanto a crise nos aeroportos corria solta. Deduziu que Denise, preocupada com o apagão, estava apenas tentando incorporar alguma entidade capaz de fazer milagres nos ares. O Cabôco pergunta: seria o Cumpádi Roberto Teixeira?

Bom proveito, companheiro

Feliz com o novo emprego, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, acaba de comunicar ao país que lidera o único partido do planeta com representação no Além. "Getúlio Vargas, João Goulart e Leonel Brizola são integrantes da comissão executiva celestial do PDT", informou no discurso de posse.

Se acredita mesmo na vida eterna, recomenda-se ao ministro aproveitar a passagem pela Terra como dirigente partidário. Não tem a menor chance de escapar do polegar para baixo no Juízo Final.


Visita de alto risco
Na visita ao Senado das candidatas a Miss Brasil, a representante do Paraná teve a bolsa tungada enquanto esperava a audiência com o presidente Renan Calheiros. Os agentes de segurança sugeriram à vítima que esquecesse o caso. Uma história dessas poderia deixar mal no retrato nossos pais da pátria.

Quase todas nascidas e criadas no interiorzão, ainda jovens demais, as visitantes aparentemente ignoram que, em temporadas na cidade grande, convém evitar lugares muito perigosos.


Noite lisboeta fica mais pobre
Monoglota radical, o embaixador em Lisboa, Paes de Andrade, agora finge que já não entende o português do Brasil. O Itamaraty determinou-lhe que solicitasse o agrément do governo de Portugal para seu substituto Celso Vieira de Souza. O vice-rei de Mombaça fez que não era com ele. O chanceler Celso Amorim teve de pedir ao embaixador português que fizesse o serviço.

Com a mudança, os dois países estão no lucro. Só ficam no prejuízo as casas noturnas da Mouraria.


Yolhesman Crisbelles
O troféu da semana vai para o vice-presidente José Alencar, pela explicação dada a um jornalista interessado em saber como conseguira chegar a Brasília, procedente de Belo Horizonte, no meio do grande apagão agravado pelo motim dos sargentos. Uai! Avião tem farol! Essa irretocável cretinice foi sublinhada pelo sorriso de quem ficou um ano e meio no Ministério da Defesa sem saber exatamente o que são, o que fazem, quanto ganham e em que condições trabalham os controladores de vôo.

08 / 04 / 2007

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