Entrevista:O Estado inteligente

domingo, abril 01, 2007

Apagão Aéreo tem seu “Baile da Ilha Fiscal”

A crise aérea brasileira tem o seu Baile da Ilha Fiscal. Vocês sabem, né? É aquele em que monarquia brasileira dançava minueto, enquanto a República era proclamada. Virou sinônimo de alienação da elite brasileira. Leiam trecho da reportagem de Expedito Filho, no Estadão deste domingo:
O diretor-presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi, pediu desculpas, mas não foi. Ficou preso em Brasília por causa do apagão aéreo e não pôde comparecer à importante reunião marcada para a noite de sexta-feira em Salvador, que colocou na mesma mesa - ou, ao menos, em mesas muito próximas em um salão da capital baiana - dirigentes da Anac e da Infraero e executivos da Varig, da BRA e da Gol. Mas Zuanazzi se fez representar: enquanto as pistas dos aeroportos permaneciam vazias por causa da greve dos controladores de vôo, obrigando 18 mil passageiros a se amontoar nos saguões de embarque e aguardar deitados uma solução para a maior crise da história da aviação no Brasil, a diretora Denise Abreu e o secretário-geral da entidade, Henrique Gabriel, participavam do encontro no restaurante Trapiche Adelaide, onde 600 convidados ocupavam a pista com passos animados de axé, se acotovelando apenas para pegar mais um copo de uísque e celebrar o casamento da filha de Leur Lomanto, também diretor da Anac, e do sobrinho de Luiz Henrique, governador de Santa Catarina.Visivelmente tensa, Denise tentava reorganizar o caos aéreo a partir da porta da igreja. “Os vôos internacionais são prioritários. Os nossos aviões não podem ficar parados no exterior”, dizia por celular a um interlocutor. “Somente depois disso cuidaremos dos vôos domésticos.” Ela relaxou apenas, durante a festa, quando a greve havia sido debelada e a diretora pôde circular pelo salão em seu vestido dourado, mandando sinais de paz aos aeroportos do País com a fumaça de um charuto Dona Flor.
Estadão:
Desespero nos aeroportos do País, dança e fofocas no 'baile do apagão'

Enquanto passageiros não embarcavam na sexta-feira, dirigentes da Anac festejavam; Zuanazzi perdeu o vôo

Expedito Filho, ENVIADO ESPECIAL, SALVADOR

O diretor-presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi, pediu desculpas, mas não foi. Ficou preso em Brasília por causa do apagão aéreo e não pôde comparecer à importante reunião marcada para a noite de sexta-feira em Salvador, que colocou na mesma mesa - ou, ao menos, em mesas muito próximas em um salão da capital baiana - dirigentes da Anac e da Infraero e executivos da Varig, da BRA e da Gol.

Mas Zuanazzi se fez representar: enquanto as pistas dos aeroportos permaneciam vazias por causa da greve dos controladores de vôo, obrigando 18 mil passageiros a se amontoar nos saguões de embarque e aguardar deitados uma solução para a maior crise da história da aviação no Brasil, a diretora Denise Abreu e o secretário-geral da entidade, Henrique Gabriel, participavam do encontro no restaurante Trapiche Adelaide, onde 600 convidados ocupavam a pista com passos animados de axé, se acotovelando apenas para pegar mais um copo de uísque e celebrar o casamento da filha de Leur Lomanto, também diretor da Anac, e do sobrinho de Luiz Henrique, governador de Santa Catarina.

Visivelmente tensa, Denise tentava reorganizar o caos aéreo a partir da porta da igreja. “Os vôos internacionais são prioritários. Os nossos aviões não podem ficar parados no exterior”, dizia por celular a um interlocutor. “Somente depois disso cuidaremos dos vôos domésticos.” Ela relaxou apenas, durante a festa, quando a greve havia sido debelada e a diretora pôde circular pelo salão em seu vestido dourado, mandando sinais de paz aos aeroportos do País com a fumaça de um charuto Dona Flor.

A festa de Maria Eduarda Lomanto e Roberto Sampaio estava agendada havia seis meses e seria um marco apenas na vida do novo casal. Em um 30 de março normal, os convidados assistiriam à cerimônia religiosa na Igreja da Conceição da Praia, no centro histórico da cidade, e depois seriam recebidos no restaurante, localizado num dos cenários de cartão-postal de Salvador, ao lado do Mercado Modelo e de frente para a Baía de Todos os Santos.

Mas, com o agravamento da crise do apagão aéreo, o casamento mudou de rota, tornando irremediável a associação do festejo com a crise nos aeroportos brasileiros.

Contra a vontade dos noivos, o ‘Baile do Apagão’ vai ofuscar a cuidadosa produção da festa e a dança de rosto colado do ex-banqueiro Ângelo Calmon de Sá com sua mulher.

Lomanto chegou a ser aconselhado por amigos a adiar o casamento para dias de céu de brigadeiro. Apesar dos apelos, o pai da noiva preferiu enfrentar a turbulência e manteve a festa. Para amenizar a repercussão na opinião pública, trocou champanhes e vinhos franceses, anteriormente previstos, por espumantes (400 garrafas) e vinhos espanhóis (300). O uísque Black Label foi substituído por Red Label (48 garrafas), uma versão mais barata. Por fim, o bacalhau tomou o lugar do lagostim e os 40 tipos de quitute da culinária baiana foram trocados de última hora por doces de chocolate. “Eu gastei apenas R$ 80 mil”, disse Lomanto. Do total, ele somente pagaria 40%, ficando o restante para ser pago por seu pai, Lomanto Júnior, ex-governador da Bahia. Nesse “baile do apagão aéreo”, somente na decoração foram utilizados mais de 2 mil galhos de orquídeas.

A reportagem do Estado apurou que o Trapiche Adelaide, do decorador Paulo Martinelli, cobra de R$ 180 a R$ 220 por pessoa. Com a confirmação de presença de cerca de 600 pessoas, levando em conta um custo médio de R$ 200, somente o valor do buffet seria de R$ 120 mil. Isso sem contar o aluguel dos dois salões de festa, cada um por R$ 9.100. Também não fazem parte das contas as bebidas compradas de uma distribuidora baiana. Tampouco estão computados os gastos com a cerimônia religiosa ou ainda o custo com músicos e um DJ de Salvador.

A lista de convidados, inicialmente com 800 pessoas, teve outras baixas, além do diretor-presidente da Anac. Dois dos principais padrinhos acabaram cancelando presença. O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, avisou que estava no Chile. O ex-presidente da Infraero Carlos Wilson, bombardeado por denúncias contra sua gestão, alegou de última hora uma doença. A ausência do ministro da Defesa, Waldir Pires, era quase uma presença. Sua queda, dada como certa, era o assunto da festa.

“Eu acho que o próprio ministro Waldir (Pires) vai tomar a iniciativa de se retirar do governo. Esta crise tem sido estressante para nós, que já não somos brotinhos, imagine para alguém com 80 anos de idade”, afirmou Denise Abreu. Ela acha que os controladores erraram no tom de sua reivindicação política, fizeram uma greve para derrubar Pires e não pensaram nas conseqüências para o País.

NOVO CHEFE NA INFRAERO

Além da certeza da demissão do ministro da Defesa, a festa trouxe outra novidade. O diretor de Administração da Infraero, Marco Antônio Marques de Oliveira, anunciava, sem cerimônia, que tinha derrubado do cargo o seu chefe, o brigadeiro José Carlos Pereira, e que dentro de 15 dias seria anunciado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva como novo presidente da estatal. “É só esperar. Eu sou muito querido dentro da empresa”, explicou com uma naturalidade de espantar até quem já dormia àquela altura da festa.

Em outras rodas, os convidados vindos de outros Estados relatavam suas proezas para conseguir pegar um vôo para Salvador. Humberto Folegatti, presidente da BRA, contava animadamente ao anfitrião Leur Lomanto como conseguiu sair de São Paulo a Salvador poucos minutos antes do apagão, enfrentando a ira dos controladores. Rubens Gallerani, diretor de assuntos governamentais da BRA, oferecia a jornalistas viagens promocionais para Europa, na linha compre uma e leve duas.

Relaxados com a animação da festa baiana, e alheios ao apagão, os convidados precisavam se preocupar apenas com a volta para casa. Júlio César Abreu, marido da diretora da Anac, planejava pegar um ônibus para Brasília, onde tem um compromisso inadiável amanhã. O novo ministro da Integração Nacional, deputado Geddel Vieira de Lima, empossado na semana retrasada, procurava com urgência uma rota alternativa. “Dá para voltar de jatinho?”, perguntava. Acabou preferindo passar o fim de semana na Bahia.

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