Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, agosto 10, 2006

Jânio de Freitas - Perdas e ganhos





Folha de S. Paulo
10/8/2006

Geraldo Alckmin é um candidato peculiar: não depende do seu, mas do programa do adversário

PARA ALCKMIN, pior do que a perda de mais quatro pontos em 20 dias, apurada pelo Datafolha, é que, com os três pontos ganhos por Lula, sua distância em relação ao petista subiu de 16 para 23 pontos. E, pela mesma dedução, em 40 dias, menos de um mês e meio, sua vantagem sobre Heloísa Helena caiu de 23 para 12 pontos. Caso a comparação com um adversário não mostre com bastante eloqüência uma situação ruim, a outra o faz com sobra.
Se estiver correta a explicação, aparentemente a mais difundida, de que a repetida queda de Alckmin decorre das duas últimas ondas criminais em São Paulo, fica evidente que os argumentos do ex-governador em defesa de sua administração, no que respeita à segurança, não convencem o eleitorado. Seja como for, diz-se que a sorte de Alckmin depende mesmo é do programa eleitoral gratuito, a começar no dia 15.
Nesse caso, Alckmin é um candidato peculiar: não depende do seu, mas do programa do adversário. Desde que o programa de Lula seja capaz de sustentá-lo mais ou menos onde está no cômputo dos votos válidos, ou até com alguma perda, não adiantará muito que o programa de Alckmin seja bom. Nem lhe bastaria que a qualidade conquistasse os atuais apoiadores de Heloísa Helena, de Cristovam Buarque e as rebarbas. Lula entrará no programa eleitoral com 55% dos votos válidos, uma vantagem enorme.
Além disso, a dependência do programa eleitoral parte de uma dificuldade já prevista, mas talvez não na proporção em que se mostra: os que declaram "nenhum interesse" (43%) e "pouco interesse" (32%) em ver/ouvir o horário eleitoral somam 75% dos eleitores. Bom para Lula, ruim para Alckmin. A tendência é de redução do índice, mas o tamanho da redução será induzido pe- lo interesse que os próprios programas provoquem. É imprevisível, portanto.
Não se pode dizer que a dificuldade de Alckmin surpreenda, seja em que medida for. Nem surpreende, senão talvez pelo percentual, a liderança de Lula, com a campanha tão antecipada e intensa que faz apoiado nas facilidades governamentais. Interessante, até agora, só o desempenho de Heloísa Helena, que chega aos 12%, dobrando o índice exibido em fim de junho, e aparenta disposição de subir mais. No Rio, por exemplo, a maré é de alta.

Coadjuvantes
A crise paulista não é só relativa à segurança. O secretário Saulo de Castro, indagado se a polícia estava avisada do ataque, diz: "Potencialmente, sim". O que será isso? Ao dizer que "alguém que está amedrontado" com a onda criminal "não deveria" estar em São Paulo, o governador Cláudio Lembo relança, não sei se só por nostalgia, o "ame-o ou deixo-o". Haja criminalidade.

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