Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, dezembro 02, 2005

NELSON MOTTA Caixa baixa

FSP
RIO DE JANEIRO - Em patética tentativa de justificar os juros injustificáveis que cobra em seus empréstimos a aposentados, a Caixa Econômica afirmou que são de apenas 2% ao mês e que são menores que os das financeiras e dos agiotas ("Painel do Leitor", 26/11). Ah, bom. Faltou dizer que são muito maiores que os das Casas Bahia.
Mas é pior: a Caixa mentiu. Basta ir ao seu site e está lá, oficial: para um empréstimo de R$ 500, a Caixa cobra 3,52% ao mês, 51,46% ao ano. Só no Brasil alguém pode usar os obscenos juros oficiais para dizer que é justo e meritório cobrar "apenas" 51,46% ao ano de pensionistas com desconto em folha de pagamento, risco zero. Mais lucro e menos risco do que vender muamba.
Os juros no Brasil são exorbitantes, entre outras coisas, pelo risco que os investidores correm ao negociar com brasileiros. Principalmente governos. Quanto maior o risco, maiores os juros, não é preciso ser especialista para saber. A eles pergunta-se apenas qual o custo operacional de fazer um desconto numa folha de pagamento e transferi-lo para um banco e qual o risco da operação? Será que isso justifica recuperar em um ano mais da metade do montante emprestado? Para gastar em publicidade? Funcionários? Comissões? Não é muito capital para pouco trabalho? Ou o inverso?
A Caixa se orgulha de ter emprestado R$ 2,8 bilhões. Então devia se envergonhar de ter tomado, em um ano, cerca de R$ 1,45 bilhões (51,46%) de clientes risco-zero que precisam desesperadamente de R$ 500. Dizem que é uma política de governo de empréstimos sociais, que estão ajudando os pobres. É demagogia. No atual modelo, estão explorando.
Quem ganha R$ 500 por mês e pede a mesma quantia emprestada, em um ano terá passado 15 dias de sua vida trabalhando oito horas por dia só para pagar os juros de sua dívida. E a Caixa se orgulha disso.

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