Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, dezembro 30, 2005

NELSON MOTTA Barbas de molho

FOLHA
 RIO DE JANEIRO - Minha experiência pessoal com barba é péssima. Uma única e escassa vez, num distante verão, tentei deixar crescer uma barba. Mas, depois de duas semanas sofrendo com o calor, suor e coceiras torturantes, desisti. Foi ótimo. Além de uma sensação de frescor e limpeza, todos que me encontravam diziam: "Você está parecendo mais jovem, o que é que você fez?".
Tinha só raspado a barba.
Mas essa chateação diária masculina, movida a espuma e gilete, enfrentando o espelho, não pode ser vista apenas como um ornamento viril ou uma opção visual dos homens brasileiros. Pelo menos desde a fundação do PT.
Pela primeira vez um partido político, além de ser mais ético, mais generoso e solidário do que os outros, exibia até uma espécie de identidade visual nas barbas de seus líderes e militantes, talvez por inspiração dos barbudos de sierra Maestra e seus nobres ideais. Surgia um novo tipo popular: o "barbudinho do PT". De qualquer forma, planejada ou não, foi uma boa jogada de marketing, um símbolo de homens guerreiros, viris e justiceiros. O vermelho, a estrela e a barba.
Claro, uma barba não faz um homem melhor ou pior do que ele é, há barbudos para todos os gostos, do bem e do mal, dependendo de quem vê, de Lula a Paulo Coelho, de Papai Noel a Fidel.
Muita gente usa barba para dar um desenho melhor ao rosto, para encobrir lábios finos (ou grossos) ou disfarçar uma papada. Uns a usam para se esconder, outros para se exibir. Independentemente de gosto pessoal, o fato é que barbas protegem muito bem o rosto em climas frios -mas são totalmente inadequadas e desconfortáveis no calor dos trópicos.
O PT reluta em assumir suas dívidas e em punir seus delinquentes, mas ao mesmo tempo diz que quer se refundar e mostrar uma cara limpa.
Quem sabe, para começar, raspar as barbas?

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