Entrevista:O Estado inteligente

domingo, dezembro 25, 2005

LUÍS NASSIF O "príncipe" dos jornalistas

FOLHA
 Na história do jornalismo brasileiro, um dos nomes de relevo foi José Eduardo Macedo Soares, que militou dos anos 20 aos anos 50 na imprensa e, durante longo período, era tratado como "o príncipe dos jornalistas brasileiros". O JE, como era chamado.
Os Macedo Soares eram de Saquarema, Estado do Rio. Um deles embarcou para São Paulo em meados do século passado. Os filhos, José Carlos e José Eduardo, foram criados em São Paulo, mas continuaram mantendo o interesse político no Rio.
JE entrou para a Marinha, mas logo sua paixão pelo jornalismo levou-o a se demitir como aspirante, para fundar "O Imparcial", que acabou se transformando no principal porta-voz dos tenentes na década de 20.
Horácio Carvalho era um jovem lindíssimo, neto do Barão de Amparo, da nobreza decadente de Vassouras. José Eduardo conheceu-o muito jovem e foi tomado de uma amizade que varou toda a vida. No Tiro de Guerra, José Eduardo acompanhava de carro o jovem amigo marchando. Mais tarde, acompanhava-o nas provas da faculdade.
Certa feita, o Clube dos Jovens Tenentes empastelou "O Imparcial". Não foi serviço bem-feito, mantendo praticamente o patrimônio intocado. Mesmo assim, Getúlio mandou que se indenizasse o proprietário e se levassem os despojos do jornal à hasta pública. José Eduardo fez com que Horácio comprasse os equipamentos e, com a indenização do governo, dos destroços de "O Imparcial" nasceu o "Diário Carioca".
No governo Protógenes Guimarães, interventor do Estado do Rio, Horácio foi nomeado secretário do Interior, dentro do esquema Vargas. Mantinha ótimas relações com Alzira Vargas e Amaral Peixoto.
Ocorre que JE pensava em ser o homem de Vargas no Rio. Quando Vargas nomeou seu genro Amaral Peixoto, JE rompeu com o governo e tornar-se-ia uma pedra no sapato de seu ex-colega de armas, brindando-o com os apelidos "Alzirante" e "Leão dos Mares Guanabarinos".
Figura curiosa a de JE. Homossexual convicto, conseguia comportar-se com a distinção de um senador romano. Usava sempre gelô, e sua figura imponente era realçada por um olho caído, arriado, que, obrigando-o a jogar a cabeça para trás, conferia-lhe aquela aparência majestosa de senador romano.
Era dono de lendária coragem pessoal. Conta-se que certa vez levou um tiro do caudilho gaúcho Flores da Cunha, que lhe varou o chapéu. JE caminhou resoluto em direção ao oponente, arrancou-lhe a arma das mãos e foi embora. Um delegado de polícia procurou-o, instando-o a denunciar o agressor. Não só não denunciou como no dia seguinte devolveu a arma ao gaúcho. Ganhou a gratidão eterna, em meio a lágrimas sinceras.
Em 1944, José Eduardo foi brutalmente agredido na Cinelândia. Aparentemente foi um desencontro amoroso, mas que foi explorado habilmente por Carlos Lacerda para martelar o governo Vargas. Apesar de homossexual convicto, foi pai de duas filhas. Uma delas, Lota Macedo Soares, construiu o parque do Flamengo para Lacerda.
Seu modo de trabalhar era lendário. Escrevia à mão num bloco de rascunho de papel jornal, enormes garranchos que comportavam apenas sete a oito palavras por página. Sua ortografia era absolutamente original. Escrevia ném, misturava palavras com dois eles e pê agá. Mas era brilhante.
Vivia uma vida frugal, em apartamento simples, mas povoado de obras de arte, por onde passavam os grandes nomes da República. Diariamente escrevia seu artigo para a primeira página do "Diário Carioca".
Era um pequeno jornal, que contava com um dos mais brilhantes corpos de cronistas que a imprensa brasileira já conheceu. O chefe de Redação era Pompeu de Souza; o adjunto, Danton Jobim. Prudente Moraes Neto era Pedro Lima, cronista político que deixou a crônica no governo JK por não concordar nem com o governo nem com a linha do jornal. Luiz Paulistano de Orleans Santana era chefe de reportagem. Havia ainda Paulo Mendes Campos, Sérgio Porto e Armando Nogueira. O secretário era Everardo Guilhon.

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