Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, dezembro 26, 2005

VINICIUS TORRES FREIRE Ano novo, vida velha

FOLHA
SÃO PAULO - Por que o Brasil de Lula e de FHC acabaram por ser tão parecidos? A rendição ao conservadorismo social e político foi o fato mais marcante do período que sobreveio à convulsão hiperinflacionária e populista da Nova República (1985-1993). Não só o petismo-lulismo mas quase o país todo se rende: o jovem sociólogo de esquerda, o empresário consciente, tecnólogos sociais, políticos.
Tudo aquilo que parecia alternativo, fosse bem pensado ou doidivanas, foi expulso pelas políticas da moeda estável, da "rede de proteção social" e da oferta universal (tentativa) de educação e saúde aos pobres.
Os pobres são dados como irremediáveis. Menos e menos vivem do trabalho, mas de assistência social, mostram os dados do IBGE (R$ 43 bilhões neste ano, para cerca de 19 milhões de benefícios mais importantes: Previdência rural, bolsas sociais e assistência social). Mesmo tendo crescido medíocres 5% desde 1996, a renda per capita superou a renda do trabalho, que caiu 18% desde então.
A política econômica é quase só política monetária -juros contra a inflação, gasto de R$ 160 bilhões este ano. Em 2004, tudo o que se pagou de juros foi o equivalente a toda a renda dos 50% mais pobres. Para comparar: a receita federal de impostos deve ser de R$ 360 bilhões este ano.
O que explica o domínio político e cultural da idéia de que nada mais há do que mercado (disfuncional), educação (ruim), bolsas sociais (contra a inanição ou explosão social maior que o crime) e a precariedade perdulária da política de juros?
O debate se resume a picuinhas de porcentuais, de superávit e ou de miséria. O país está tão encalacrado como seu Orçamento. A esquerda não se deu conta de que a crítica social da direita tinha suas razões. O país subsidia aposentadoria, educação e saúde de ricos e classe média. O mercado é engessado. Até hoje discute privatização de fábrica de aço.
Tecnologia, reforma agressiva do gasto público, casa e saneamento, posse da terra urbana e, essencial, trabalho, de nada disso se trata.

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