FOLHA
Enquanto a campanha contra o voto para deputado carrega as baterias, é tempo ainda de pensar em uma pergunta: não seria melhor, em vez de recusar o voto, aceitar o trabalho de escolher criteriosamente um candidato? Sob certas condições, a recusa do voto é atitude política e democrática, e já foi assim na ditadura. Mas, em situações como a atual, pode ser o oposto, pode traduzir-se, na prática, em recusa a colaborar na construção da democracia -tarefa pra lá de cansativa, mas sem alternativa.
É certo que a possibilidade de escolha criteriosa está limitada a uma parte do eleitorado. As camadas desprovidas de condições culturais e materiais de acesso à informação cotidiana, na qual garimpar as razões da sua opinião, ficam indefesas diante da vigarice com nome de política. É injusta e inverdadeira a idéia de que o Congresso é ruim porque essas camadas votam mal, seduzidas com facilidade por promessas de benefícios e por recompensas chinfrins. Seus votos decorrem do nível de instrução e de informação, mas sobretudo são reflexos de necessidades e de objetivos completamente diferentes dos comuns às camadas favorecidas. E de modo geral mais justificados e mais respeitavelmente humanos.
Também é certo que o cuidado antes do voto não é garantia de conduta satisfatória do votado, se eleito. O que estamos vendo nesses dias é a mistura, no mesmo cofre sórdido, de eleitos pelo eleitorado desfavorecido e de eleitos também pela elite cultural e social paulista, além de outras menos cotadas. Qual desses eleitores "vota mal", "não sabe votar"?
Nenhum voto deixa de ser um risco. Aí não está, porém, motivo para menosprezar a possibilidade de votar. É motivo, isso sim, para reduzir o risco ao mínimo possível, como faz quem dirige direito, atravessa ruas com atenção, enfim, "não marca bobeira", no dizer dos nossos atuais orientadores culturais. Quem está indignado, a ponto de não querer votar, é quem mais deve votar -para que haja, talvez, a oportunidade de reduzir as tão variadas motivações de indignação. O que falta na política brasileira, e causa a sua deterioração crescente, não é a repulsa de fora, é a maior mobilização exigente sobre e em torno dos políticos de todos os níveis e quadrantes. Como um cerco, mesmo.
Se o Congresso melhora ou piora, a política e os governos melhoram ou pioram, e tudo o mais melhora ou piora. Ainda ontem os deputados receberam R$ 12.847 de "ajuda de custo". Essa é a denominação. Na realidade, é o 15º salário. Pois é, são 15 salários por ano. Uma "ajuda" em dezembro porque se encerra o ano legislativo, outra no começo do ano porque se inicia o ano legislativo, o 13º e os 12 mensais. Sem contar os salários dobrados pela convocação extraordinária, que está em curso neste mês de plenas férias e assim continuará até 16 de janeiro.
Deputado deve ganhar bem, mas para trabalhar. Não para beneficiar-se de um sistema em que só nas quartas-feiras sua ausência infringirá as normas, ainda assim, em termos. E desde que a quarta-feira não esteja em semana com algum feriado, caso em que a semana mesma vira feriado. Mudar o atual sistema com recusa de votar? Com voto criterioso é difícil, sem ele é impossível. Pior: sem ele, menos ou mais tarde a coisa vai estourar, de algum modo vai estourar.
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