Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, dezembro 30, 2005

Editorial da Folha de S Paulo

PLEITO VALIDADO
Embora os resultados oficiais não tenham sido proclamados e existam ainda 1.500 denúncias de fraude sob investigação, tudo indica que as eleições iraquianas serão aceitas pelas principais facções do país. É uma boa notícia. Pelo menos por ora, parece afastada a ameaça de uma guerra civil em larga escala.
Árabes sunitas e xiitas seculares ainda ensaiam protestos e insistem na tese de manipulação, mas já dão sinais de que acabarão por acatar o veredicto das urnas. Anteontem, a ONU declarou o pleito "transparente e crível" e descartou a realização de uma nova eleição como queriam os partidos derrotados.
Os resultados provisórios sugerem que a coalizão de partidos religiosos xiitas saiu vencedora, com 130 das 275 cadeiras da Assembléia. Para governar, precisará compor-se com outros grupos. Os curdos ficaram com 50 assentos; os sunitas, com 40; e a aliança de partidos seculares liderada pelo ex-premiê Iyad Allawi conseguiu 25 vagas. Em números aproximados, árabes xiitas correspondem a 60% da população iraquiana, árabes sunitas são 20%, e curdos, 20%.
O mais provável é que xiitas e curdos consigam repetir a aliança do governo provisório e fiquem no comando. Os sunitas, embora com um desempenho abaixo de suas próprias expectativas, estão agora mais bem representados do que na Assembléia, cujo pleito eles boicotaram.
Nas próximas semanas, líderes de todos os grupos vão discutir a formação do governo. Para evitar o aprofundamento das tensões, seria importante que os sunitas fossem incluídos no próximo gabinete. Resta saber se xiitas e curdos, perseguidos durante décadas pela minoria sunita, dispõem-se a ceder nesse ponto.
A história do Oriente Médio sugere que velhas desavenças nunca são esquecidas e sempre servem de pretexto para embates futuros.

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