Entrevista:O Estado inteligente

sábado, dezembro 24, 2005

VEJA Mensalão:Marcos Valério processa o PT

E o carequinha ainda
quer 100 milhões


Juliana Linhares e Heloisa Joly


Dida Sampaio/AE
Marcos Valério: o lobista dará calote no Fisco mesmo que o PT lhe pague

O ano de 2005 terminou com duas provas da existência do mensalão. Uma delas movida pela necessidade mais urgente: o lobista Marcos Valério Fernandes de Souza recorreu à Justiça para que o PT lhe restitua o dinheiro usado para pagar propina aos parlamentares da base aliada. O lobista carequinha – que detesta ser chamado de lobista e de carequinha – alega que tomou 55,9 milhões de reais emprestados no Banco Rural e no BMG a pedido do PT. O carequinha quer que o PT lhe dê 100 milhões de reais, referentes ao valor corrigido dos financiamentos bancários. Dias depois de Valério ter entrado na Justiça contra o partido, o deputado Osmar Serraglio divulgou um relatório parcial da CPI dos Correios no qual afirma que pelo menos parte do dinheiro gasto no mensalão saiu de empresas estatais. A CPI apresentou o relatório porque seus integrantes estavam preocupados com o forte cheiro de pizza exalado do julgamento do deputado mineiro Romeu Queiroz, do PTB, absolvido pela Câmara há duas semanas.


Dida Sampaio/AE
Osmar Serraglio: o dinheiro do mensalão veio de estatais

O relatório de Serraglio afirma que o pagamento de propina a deputados da base aliada, em troca de votos para o governo, não só existiu – inclusive na forma de semanão, semestrão ou parcelão único – como trouxe consigo uma coleção de crimes destinados a viabilizá-lo. Entre eles: licitações dirigidas, uso de notas frias e tráfico de influência. O documento mostra que datas de votações importantes para o governo (como a Reforma da Previdência ou a Lei de Falências) coincidem com as de recebimento de somas vultosas por parte de deputados da base aliada. Revelou também uma intensa movimentação financeira no valerioduto nos momentos em que os deputados trocavam de partido, pulando de legendas de oposição para as da base governista. "A propina era uma espécie de pagamento de 'luvas' para o parlamentar que passava a votar com o governo", afirma o deputado Eduardo Paes, do PSDB fluminense.

Sérgio Lima/Folha Imagem
Jefferson apanhou, foi cassado, mas, como se sabe agora, contou a verdade


A informação mais impactante do relatório, no entanto, é que outros 9,2 milhões de reais do Banco do Brasil foram desviados para o valerioduto por meio da Visanet. Há um mês, a CPI já havia divulgado a informação de que a Visanet, que tem no BB o seu principal acionista, havia repassado irregularmente 10 milhões de reais para uma das agências de publicidade de Marcos Valério. A importância dessa revelação está no fato de as duas operações, que somam quase 20 milhões de reais, mostrarem que recursos públicos foram usados para financiar o esquema montado pelo lobista em parceria com o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. O repasse de recursos da Visanet para a DNA, uma das agências de Valério, foi possível graças à existência de contratos de propaganda firmados pelas duas empresas. A Visanet justifica as transferências como "adiantamentos por serviços prestados". A CPI concluiu, porém, que grande parte desses serviços nunca ocorreu.

A apresentação do relatório foi uma estratégia do comando da comissão para esvaziar a tese propalada pelos governistas de que não se havia provado a existência do mensalão. Os governistas concordaram com a divulgação do documento sob a condição de que ele não incluísse pedidos de indiciamento de Valério, Delúbio e outros integrantes do esquema. Se as promessas da CPI para 2006 se confirmarem, o sossego dos mensaleiros durará pouco. Os parlamentares da CPI estimam que, ao fim do processo, haverá mais de 200 indiciados. "Delúbio e Marcos Valério estarão entre eles", diz o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto, do PFL baiano. O lobista caiu em desgraça quando o ex-deputado Roberto Jefferson denunciou o mensalão. Abandonado, afogou-se em dívidas e culpa o PT pela penúria. O carequinha alega que suas empresas assumiram seis financiamentos no valor de 55,9 milhões de reais com o único fim de repassar dinheiro para os políticos indicados pelo partido. Apenas uma pequena parte deles foi paga. Acionado pelo BMG, Marcos Valério quitou 350 000 reais de um empréstimo que avalizou para o PT. O lobista quer que o PT lhe restitua 100,6 milhões de reais. Esse valor corresponde à soma atualizada de suas dívidas bancárias e à parte que ele pagou ao PT. Mas são remotas as chances de Valério receber o dinheiro. O PT diz que não lhe deve nada. O carequinha, que começou 2005 com a carteira recheada, chegou ao Natal dando o cano na praça. Além dos 100 milhões de reais que estão pendurados nos bancos, uma de suas empresas deve 72,9 milhões de reais à Receita Federal e ao INSS. Os empréstimos que contraiu como pessoa física chegam a 4,6 milhões de reais. A soma de todos os débitos alcança 177,5 milhões de reais. Mesmo que o PT lhe pagasse, Valério ainda ficaria no vermelho em 76,9 milhões de reais. A maior parte desse dinheiro é devida ao Fisco. Ou seja, ao contribuinte.

The image “http://veja.abril.com.br/281205/imagens/mensalao4.jpg” cannot be displayed, because it contains errors.

Arquivo do blog