Entrevista:O Estado inteligente

sábado, dezembro 31, 2005

CLÓVIS ROSSI Férias?

FOLHA
 SÃO PAULO - Nada como o espírito festivo de Natal/Ano Novo. Até esses ranzinzas que fazem a Folha revelaram toda a caridade do mundo ao preparar o título principal da capa de ontem: "Congresso sai de férias sem votar Orçamento".
O Congresso sai de férias? Como, se não trabalhou nadica de nada nos 12 meses anteriores, única maneira de cidadãos normais e decentes adquirirem o direito de gozar férias? A própria Folha, aliás, dias atrás, já havia feito um levantamento sobre as atividades do Congresso que provou, com números insofismáveis, que esse pessoal não fez nada o ano inteiro.
O título correto, portanto, não fosse o espírito festivo e caridoso, seria "Congresso continua de férias e não vota o Orçamento".
Já tive meus momentos de defender a chamada classe política. Uma e outra vez, neste mesmo espaço, escrevi que o preconceito contra políticos é primo-irmão do preconceito contra judeus, árabes, negros, nordestinos, homossexuais etc.
Hoje em dia, continuo me irritando com o preconceito contra quem quer que seja, mas entendo e até justifico o preconceito contra políticos. Sei que o bordão usual ("são todos ladrões") é injusto com uma meia dúzia de gente decente que faz da política a sua profissão e a sua vocação.
Mas são tão poucos os que se salvam nesse meio que é cada vez mais difícil defendê-los. Até porque os que se salvam acabam, não obstante, coonestando pelo silêncio as práticas de seus pares mais nefandos.
Quando viajei pela primeira vez a Washington, faz mais de 30 anos, o guia do Departamento de Estado mostrou o Capitólio, a sede do Congresso, e disse que não podia haver nenhuma edificação que ficasse acima daquela cúpula, para representar a absoluta proeminência da casa dos representantes do povo.
Achei bacana. Mas, se se aplicasse tal critério ao Brasil, aquelas cúpulas emborcadas de Niemeyer deveriam ficar sob a terra seca de Brasília, bem enterradas.

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