Entrevista:O Estado inteligente

sábado, dezembro 31, 2005

CELSO MING Mudou o foco

O ESTADO DE S PAULO

Virada a caminho no turismo do Brasil.

A conta do setor deve fechar no vermelho. Isso significa que os brasileiros gastaram mais em viagens ao exterior do que os estrangeiros gastaram com turismo por aqui. Ainda assim, há o que comemorar.

Este foi um ano de recordes, tanto em movimentação de turistas quanto em receita.

As estatísticas do Banco Central indicam que o déficit na conta de turismo ainda ficará perto de US$ 1 bilhão. No entanto, se, de um lado, mais dólares saíram do Brasil porque os turistas brasileiros aproveitaram o câmbio favorável para viajar, de outro, nunca os turistas estrangeiros deixaram tantos dólares por aqui.

Nos 11 primeiros meses do ano, a receita em moeda estrangeira com turismo de fora para dentro ultrapassou os US$ 3,5 bilhões, 21,3% a mais do que em 2004. Pelas projeções do diretor de Estudos e Pesquisas do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), José Francisco de Salles Lopes, as receitas devem ultrapassar os US$ 3,8 bilhões, deixadas por 5,6 milhões de estrangeiros.

A movimentação de passageiros nos aeroportos ajuda a mostrar o movimento. Dados da Infraero indicam que o número de viajantes nos vôos internacionais cresceu 15,4% de janeiro a novembro em comparação com o mesmo período do ano passado, passando de 9,1 milhões para 10,5 milhões.

O conselheiro da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav), Goiaci Alves Guimarães, sugere nova avaliação: "Quando você ouvir por aí que os vôos estão saindo lotados, saiba que isso tem mais a ver com os turistas estrangeiros que estão voltando para casa do que com mais brasileiros viajando para o exterior."

Mas como explicar o resultado negativo da conta de turismo? Para Goiaci, há uma falha metodológica no tratamento das estatísticas. Entre outras esquisitices, somam à saída de dólares gastos por brasileiros que viajam para fora as compras feitas por meio da internet e pagas com cartão de crédito internacional.

Poderia parecer que o câmbio valorizado, que proporciona menos reais por dólares, afastasse os turistas. Mas acontece o contrário, os estrangeiros estão gastando mais por aqui.

A explicação é a de que a valorização do real reduziu os preços internos amarrados ao dólar, como diárias dos hotéis, pacotes turísticos, passagens e fretamento de aeronaves. "Os cruzeiros, por exemplo, eram pouco acessíveis ao brasileiro. Mas já há agências fretando navios para o ano inteiro", comenta André Pousada, coordenador da área de Turismo do Senac.

Em conseqüência desse barateamento em reais das despesas turísticas, aumentou o número de brasileiros que fazem turismo no País. Entre janeiro e novembro, o movimento de embarques e desembarques domésticos de aviões foi 17,6% maior que o do mesmo período do ano passado.

Mas o câmbio jogou contra. O aumento do faturamento, por exemplo, poderia ser ainda melhor. O volume da receita em dólares aumentou, mas em reais o avanço foi baixo. Mas, como diz Guimarães, isso não é uma reclamação. O que importa é que o turismo está ganhando importância. Neste ano, segundo o Ministério do Turismo, o setor deve ficar com a quinta posição na pauta de exportações do País.

Grande parte dos esforços do setor se concentra em desenvolvimento de infra-estrutura, qualificação profissional, marketing, sinalização, limpeza urbana, etc. Enfim, o foco mudou. O setor aprendeu que precisa transformar matéria-prima em produto turístico. Não basta mostrar praias e cachoeiras se não existirem condições mínimas para receber os turistas. COLABOROU DANIELLE CHAVES

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