Estão tão sólidos que ignoraram a crise política. Fossem outros os tempos, teria havido uma desastrosa corrida ao dólar e o índice de risco Brasil teria saltado para mil pontos.
Curiosamente, enquanto relatórios de empresas e de escritórios de consultoria falam de economia robusta e melhora de perspectivas para os negócios, os dirigentes das entidades empresariais insistem em que o setor produtivo está asfixiado.
O crescimento medíocre não explica tudo. Há 20 anos ele é medíocre e, no entanto, nunca houve tanta gritaria como agora.
Na semana passada, por exemplo, o Conselho Nacional da Indústria, que coordena a política do setor industrial no País, divulgou informe (A economia brasileira em 2005 e perspectivas para 2006) em que lamenta, sim, o crescimento pífio e pede mais austeridade fiscal, mas faz uma análise serena da atividade econômica deste ano e uma previsão auspiciosa do que vem pela frente. É outro o tom.
Mas quem ouve o que diz o empresário, vice-presidente da República e ministro da Defesa, José Alencar, sobre a política econômica acha que está em curso o plano de emergência 3: mulheres e crianças primeiro, homens depois. Por que isso acontece?
Não há só uma explicação para isso. O presidente Lula tem sobre o assunto uma atitude dúbia, de quem defende sua política econômica, mas, ao mesmo tempo, encoraja os ataques a ela. Tudo se passa como se o PT, que por tantos anos pregou a ruptura de modelo, uma vez no governo não tivesse assumido o perfil conservador da política adotada. Teve vergonha de implantar um "choque de capitalismo", para ficar com a expressão de um dos pais do Plano Real, o economista Edmar Bacha, em entrevista publicada domingo no caderno Aliás.
O crescimento econômico merreca foi programado pelo governo, na medida em que optou pelo combate à inflação e por um choque de credibilidade para que a política monetária garantisse, como fez, capacidade de o País honrar sua dívida. Mas o próprio presidente Lula às vezes parece arrependido de ter enveredado por esse caminho e, assim, atiça a artilharia do fogo amigo para aplacar suas aflições. E isso cria insegurança.
Outra hipótese que explica o destampatório é a crise política. Diante da enxurrada de denúncias de corrupção, da impunidade que persiste e da paralisia da administração federal, gente que prefere um culpado em vez de uma solução se põe a demonizar o ajuste fiscal e monetário.
O presidente de uma grande consultoria, que prefere ficar nos bastidores, identifica no ataque dos empresários boa dose de saudades da inflação. "Durante mais de 20 anos eles ganharam dinheiro no mole com a virada da tabela (de preços) e com as remarcações. Depois que a inflação mergulhou, ficou mais difícil fazer dinheiro porque agora resultados só vêm com criatividade, suor e aumento de competitividade. Entre inflação baixa com crescimento baixo e crescimento maior com mais inflação, preferem a segunda opção, porque ficam mais à vontade para lidar com reajustes freqüentes de preços. Mas hoje se deparam com uma variação anual do IGP-M de não mais que 1,4%, que não dá jogo nas remarcações."
As centrais sindicais sofrem das mesmas saudades. Era bem mais fácil arrancar uma greve da categoria por reposição salarial. Agora que o poder aquisitivo do trabalhador tem aumentado, como comprova o Dieese, a mobilização ficou complicada.
São hipóteses. Talvez você tenha uma melhor. Mas não dá para negar que o debate econômico deixou a zona do cérebro e foi para as vísceras.