O Estado de S. Paulo |
30/12/2005 |
Como a maioria dos americanos sabe, a indústria automobilística dos Estados Unidos está em crise. Os salários dos trabalhadores estão em queda e centenas de milhares de serviços são executados no exterior. O maior fornecedor de peças do país, a Delphi, entrou com pedido de proteção de falência e a General Motors, principal cliente da Delphi, também deve seguir o mesmo caminho, se uma greve do sindicato da categoria, a United Auto Workers, ocorrer no próximo mês. Enquanto isso, a Ford e seu principal fornecedor, a Visteon, parecem percorrer o mesmo caminho. Se o governo pagasse as contas dos seguros saúde de todos, como fazem no Canadá e na maior parte da Europa, os Big Three de Detroit, como são chamados os principais fabricantes de carros americanos, poderiam economizar pelo menos US$ 1.300 por veículo. A lucratividade voltaria. Com mais dinheiro no bolso, os fabricantes poderiam pagar seus fornecedores. As comunidades seriam poupadas do desemprego. Claro, há muitas outras razões para defender um plano de pagamento único, além de ajudar a indústria automobilística. Embora seja o mais caro do mundo, o sistema americano ainda deixa 43 milhões de pessoas descobertas. A última classificação da Organização Mundial de Saúde pôs o sistema americano em 33º lugar, depois de Costa Rica e apenas duas colocações acima de Cuba. A maioria dos defensores do sistema de saúde universal centra foco na oposição dos republicanos e das empresas de seguros. Mas talvez o fator que mantém a revisão fora da agenda nacional é algo que poucos democratas reconhecem: a maioria dos dirigentes sindicais, colegas de Gettelfinger, não apóia um sistema de saúde universal. A razão se resume ao interesse próprio. A United Auto Workers é um dos poucos sindicatos do setor privado que não administra seu próprio plano de saúde. Em vez disso, a maioria criou grandes empresas para administrar os planos de seus filiados, o que lhes deu uma parte grande, e muitas vezes corrupta, do atual sistema. Fazer oposição a um plano nacional de saúde é parte da tradição sindical americana tanto quanto os piquetes. Remonta a Samuel Gompers, fundador da American Federation Labor (AFL). Essa linha de pensamento levou à decisão do comitê de seguro saúde da AFL-CIO, em 1991, de rejeitar a proposta de um plano único. A maioria disse que um sistema nacional não teria chance no Congresso, mas outros viram um conflito de interesse: um plano de saúde nacional poderia pôr os negócios do sindicato em perigo. O voto decisivo foi dado por Robert Georgine, diretor executivo da Ullico, uma grande empresa de saúde criada pelos sindicatos. Uma década mais tarde, Georgine, que ganhava US$ 3 milhões por ano da Ullico, e vários outros executivos - todos dirigentes de sindicatos da AFL-CIO - foram investigados pelo governo por transações ilegais envolvendo ações da Ullico. Georgine e vários diretores pediram demissão e este ano ele concordou em pagar US$ 13 milhões à empresa. Sejamos honestos: fundos de seguro saúde administrados pelos sindicatos fornecem oportunidades irresistíveis aos dirigentes sindicais. Primeiro, o nepotismo: a contratação de amigos e parentes. Depois, os eventos pagos pelos planos e segurados. E, para quem está disposto a passar o limite da legalidade, há ainda a chance de levar comissões dos vendedores. Muitos funcionários são acusados, mas poucos vão para a cadeia, mesmo quando o dinheiro acaba nas mãos da máfia. No mês passado, os promotores perderam um caso criminal no Brooklyn, no qual eles alegavam que a família mafiosa Genovese se apoiava em dois presidentes de um sindicato para, entre outras coisas, favorecer um vendedor. Evidentemente, o júri foi convencido pela defesa de que os dirigentes sindicais estavam sob coação. Até Lawrence Ricci, principal acusado da família Genovese, foi absolvido, embora tenha desaparecido e nunca tenha testemunhado. (Seu corpo foi descoberto no mês passado na caçamba de um caminhão em Union, New Jersey.) Apesar da redução dos quadros, o sindicalismo ainda tem dinheiro e músculos para apoiar uma campanha de plano de saúde nacional. No mês passado, os sindicatos do setor público na Califórnia surgiram com dezenas de milhões de dólares numa campanha bem-sucedida para derrotar a votação de uma medida que desafiava seu direito de usar as contribuições sindicais com objetivos políticos. O problema é fazer os sindicatos brigarem por preocupações comuns em oposição a interesses institucionais estreitos. Talvez uma ampla reforma sindical tivesse que preceder à do sistema de saúde americano. |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, dezembro 30, 2005
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