Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, dezembro 28, 2005

Augusto Nunes - Essa candidatura parece provoção -


No minimo 24/12

Augusto Nunes  






   

 







I






24.12.2005 |  Mandam os usos e costumes do Banco Interamericano de Desenvolvimento que a Vice-Presidência de Finanças e Administração seja ocupada por um brasileiro. É um cargo e tanto. Além do salário invejável, garante prestígio e poder ao premiado. Com o crachá que identifica o dono do gabinete, vem a caneta que nomeia o staff. Seus integrantes ficam durante três a cinco anos à sombra de contratos que estabelecem gordas remunerações em dólares.

Vago com a saída do economista João Sayad, o cargo parecia reservado a Joaquim Levy, secretário do Tesouro Nacional. Estranhamente, Levy mudou de planos e rumos. E as preferências do Planalto foram transferidas para Luiz Awazu Pereira, secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda desde 31 de março de 2004. Se consumada, terá sido uma escolha audaciosa.

"É como promover um sargento a general", comparam altos funcionários do BID. Antes de incrustar-se na equipe de Palocci, Awazu era apenas um dos numerosos advisers da direção do Banco Mundial. Não é muita coisa. Nessas instituições internacionais, a sensatez recomenda que um adviser demore ao menos 15 anos para ocupar qualquer vice-presidência. Mas o Brasil é insensato de nascença.

A ousadia da indicação é reafirmada por façanhas recentes do candidato. Em 6 de abril de 2004, uma semana depois da posse, decolou rumo a Paris e ali ficou nove dias. Brasileiro de nascimento, Awazu foi criado na França, tem dupla nacionalidade, sua mulher é francesa, os filhos também. A mãe e os irmãos moram lá. Ruim em português, é fluente no idioma de Rabelais. Tais circunstâncias reforçam o apreço pela terra dos gauleses. Em 18 meses, fez 22 viagens a Paris. Uma milhagem notável.

A periódica matança da saudade provocou outros fenômenos impressionantes. Em um ano e meio, Awazu recolheu em diárias de US$ 300 uma fortuna: US% 75 mil, ou US$ 4.200 por mês. As cifras informam que o figurão das finanças esteve longe do local do trabalho 15 dias a cada trinta. É um viajante campeão, sob o generoso patrocínio do governo.

Qualquer ascensorista do Ministério da Fazenda sabe que Awazu chegou lá graças à amizade com o senador Aloizio Mercadante. Essa minúcia essencial não aparece no detalhado currículo exibido no site oficial – uma coleção de exageros e mentiras. Os superlativos começam pelo Banco Mundial. Na versão do nosso herói, ele foi "assessor do Economista Chefe e Consultor do Vice-Presidente de Desenvolvimento Econômico".
Não passou de mais um adviser entre os 32 assessores do chefão.

Awazu também se proclama "Doutor em Economia". Falso. Limitou-se a um curso de Mestrado na França. Dura dois anos. São necessários cinco para que alguém vire doutor. Declara-se "Mestre em Filosofia pela Universidade de Paris, Sorbonne". Fantasia. Segue o desfile de alegorias enganosas. De 1996 a 1999, jura o site, Awazu teria sido "Diretor do Departamento de Análise Econômica e Risco País do Export-Import Bank do Japão". Falso. O adviser do Banco Mundial foi cedido ("seconded", em inglês) ao Eximbank japonês para ajudar em pesquisas. Só.

Um doutor e mestre (fora o resto) não deixaria de brilhar nas estantes. Awazu assume a autoria de duas obras com títulos imponentes. Uma delas: "The Impact of Economic Policies on Poverty and Income Distribution: Evaluation Techniques and Tools". Como a outra, trata-se de um trabalho coletivo, monitorado por especialistas. Awazu foi pesquisador assistente. Só.

Com tal prontuário, ameaça pousar no BID. Parece piada. O presidente Lula, a quem cabe a palavra final, deve estar aborrecido com a entidade. Ou com Sayad. Ou com Wasghington. Ou com o mundo.

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