José Nêumanne
1) O abandono precoce das investigações da polícia paulista nos casos Toninho do PT e Celso Daniel - Pode-se entender que o PT chegasse a usar até o "valerioduto" para pagar caro a um advogado do porte de Aristides Junqueira para completar o trabalho de Luiz Eduardo Greenhalgh de tentar provar o improvável: que o prefeito de Santo André Celso Daniel tinha sido executado por bandidos comuns e por engano. Foge à lógica banal, contudo, encontrar algum motivo para explicar a recusa da polícia paulista (sob comando do governador Geraldo Alckmin) em investigar a possibilidade do crime encomendado tanto nesse caso quanto em outro anterior, o assassínio do prefeito de Campinas Toninho do PT. Bem investigados, os dois casos teriam dado muito mais dores de cabeça a Lula e aos petistas - o que, afinal, eles só viriam a sofrer após as denúncias do ex-amigo Roberto Jef-ferson. Mas o alto cardinalato tucano nada percebeu.
2) A eleição de Severino Cavalcanti - Sob a égide do politicamente corretíssimo Aluízio Nunes Ferreira, o prefeito de São Paulo, José Serra, mandou a bancada do PSDB votar no candidato oficial à presidência da Câmara, o mesmo Luiz Eduardo Greenhalgh que fizera o jogo sujo do PT no caso Santo André. A pretexto de manter incólume o duvidoso conceito de que a maior bancada deve ter um representante no comando da Casa e desconhecendo a divisão interna que condenou a péssima candidatura ao malogro, os tucanos não apresentaram candidato nem votaram em José Carlos Aleluia (PFL-BA) e ajudaram a eleger Severino Cavalcanti (PP-PE). Este, além de fazer favores ao governo em troca de favores do governo, caiu acusado de cobrar propina e abriu as portas para um novo presidente servil ao Planalto, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), tornando inviável alguma tentativa de criar quaisquer transtornos para as hostes governistas.
3) A briga entre Serra e Alckmin - A um ano da eleição, certos de que Lula já estava na lona, antes do tempo, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que tem poucas possibilidades de ganhar a Presidência, e o prefeito da capital, José Serra, que está na frente nas pesquisas, estão queimando as ainda boas chances de vitória numa fogueira de vaidades. Esta também é alimentada pela excessiva loquacidade do ex-presidente Fernando Henrique, que só não deu palpite ainda sobre a Máfia do Apito porque não ocorreu a nenhum repórter perguntar.
4) A blindagem de Lula - Certa de que teria competência para manter o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sangrando até a eleição de 2006, para, então, derrotá-lo nas urnas, a oposição deixou passar o bonde do impeachment quando o marqueteiro de Sua Excelência, Duda Mendonça, contou à CPI dos Correios que recebeu o pagamento por seus serviços no exterior. Agora, o futuro presidente nacional do PSDB, Tasso Jereissati (CE), corre atrás desse bonde com a denúncia da Veja de financiamento da mesma campanha com a ajuda de dólares cubanos. A enorme dificuldade de enxergar o lado prático das coisas impede o alto tucanato de perceber que o "mensalão" que pode garantir a reeleição de Lula não é o dos deputados, mas são os tais programas sociais que compram votos do povão a baixíssimo custo.
5) O caso Eduardo Azeredo - Quando foi noticiado o uso do "valerioduto" na campanha do senador Eduardo Azeredo em Minas em 1998, o PSDB imaginou que poderia fazer impunemente o que condenava em Lula e no PT: fingir que não tinha nada com a hora do Brasil. Imaginou em vão que seria esperto apostar na tolice alheia, perdeu tempo e, quando tomou a providência que deveria ter tomado, já foi tarde.
6) O referendo das armas de fogo - José Serra, Geraldo Alckmin e Fernando Henrique, incapazes de fazer qualquer coisa que não seja autorizada pela cartilha do politicamente correto, votaram sim no referendo da proibição da fabricação e venda de armas de fogo, seguindo o comando sinalizado pela primeira-dama, Marisa Letícia da Silva. Não perceberam o protesto popular contra o Estado intrometido e perderam a oportunidade de ouro de marcar uma posição apoiada pela grande maioria da população e contra a inércia e a inépcia da política de segurança do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.
7) A CPI do caixa 2 - Para retaliar o PT por conta da renúncia de seu presidente nacional, o PSDB patrocinou uma CPI para investigar o uso de contabilidade paralela ilícita pelos partidos em campanha. Com isso, fizeram duas vezes a felicidade de Lula e do PT. O presidente, que já festejou a prova de democracia dada pelo funcionamento simultâneo de três CPIs investigando delitos atribuídos a dirigentes de seu partido e executivos de seu governo, na certa agora vai comemorar a quarta. Além disso, o PT terá uma excelente oportunidade para provar que sempre disse a verdade ao afirmar que todos os partidos cometem esses crimes contábeis em suas campanhas.
Bem, ainda falta um ano para a eleição presidencial. Da mesma maneira como é provável que novos escândalos de corrupção venham à tona, tamanha a sede com que o PT foi ao pote (e a denúncia do financiamento da campanha presidencial por Cuba pela Veja prova isso), não é também impossível que a "pouca prática" dos tucanos volte a se manifestar em novas bolas fora. É só esperar para ver.