Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, novembro 15, 2005

EDITORIAIS DE O GLOBO

Retrato do país


O ritmo de crescimento da população brasileira diminuiu consideravelmente depois de atingir seus mais altos percentuais nos anos 50 e 60. Ainda assim, os dados demográficos continuam sendo motivo de grande preocupação, em face da disparidade dos índices de fecundidade nas classes mais humildes em relação à média do país. Essa disparidade pode se agravar se as autoridades responsáveis pela área de saúde não puserem em prática, rapidamente, programas eficazes para se evitar a gravidez precoce.

Em uma série que vem sendo veiculada pelo "Fantástico", da TV Globo, o médico Dráuzio Varella tem levantado essa questão com objetividade. No último domingo, por exemplo, Varella mostrou que as jovens de classe média geralmente recebem orientação para evitar a gravidez precoce e têm acesso a métodos contraceptivos, enquanto nas famílias mais humildes mesmo as moças que já são mães continuam desorientadas.

E o mais grave foi constatar que em cidades de regiões pobres do país os postos públicos de saúde estão sem receber anticoncepcionais e preservativos, sem os quais é impossível se evitar a gravidez precoce e as doenças sexualmente transmissíveis.

Anos atrás qualquer esforço em prol do planejamento seria identificado como uma tentativa elitista de se atacar o problema da pobreza pela redução do número de nascimentos. No entanto, intelectuais respeitados por todas as correntes políticas, como Dráuzio Varella, hoje entendem que essa é uma questão sobre a qual o debate ideológico não faz sentido. Além das implicações socioeconômicas das disparidades nos índices de fecundidade, trata-se de um grave problema nacional de saúde pública.

A solução mais imediata está no uso orientado de métodos anticonceptivos, e isso deveria se transformar em rotina do Sistema Único de Saúde (SUS). A falta de pílulas em posto de saúde do interior do país, como foi mostrado pelo "Fantástico", nunca poderia acontecer. As mulheres que já são mães e não desejam engravidar mais também deveriam ter o direito de se submeter, pelo SUS, sem ônus para suas famílias, à cirurgia de laqueadura de trompas.

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