Mercosul kafkiano
O governo brasileiro vai ceder à pretensão argentina de criar salvaguardas comerciais no Mercosul. Será mais um golpe contra o livre comércio entre os sócios do bloco e mais um retrocesso na política de integração. Mas a diplomacia brasileira, contrariando toda evidência, afirma exatamente o contrário. Brasília cederá mais uma vez, segundo a explicação oficial, para preservar a cooperação com o maior vizinho. "Não vale a pena azedar a relação bilateral por um punhado de dólares", disse uma fonte brasileira citada pela correspondente da Agência Estado em Buenos Aires, Marina Guimarães. Para as empresas brasileiras forçadas a limitar suas vendas, não se trata de um punhado de dólares. Trata-se de uma perda injusta e economicamente importante, porque investiram e cuidaram de modernizar-se, mas ficam sujeitas a barreiras precisamente onde o comércio deveria ser mais livre. As barreiras já existentes, negociadas ou não, afetam indústrias de calçados, de geladeiras, de máquinas de lavar, de tecidos e de eletrônicos. O comércio de veículos é regulado por um acordo já revisto por exigência dos produtores argentinos. Pela última revisão desse acordo, o mercado automobilístico deverá ser liberalizado a partir de 1º de janeiro. Isso não ocorrerá, porque o governo argentino já anunciou a intenção de não cumprir o combinado. Mas não exige só uma nova prorrogação: pretende a adoção de regras mais restritivas, por fábrica e não por vendas totais, e por tempo indefinido. Nem a associação das montadoras argentinas, a Adefa, apóia um novo acordo sem prazo. Mas o governo do presidente Néstor Kirchner fez do protecionismo comercial uma de suas bandeiras políticas e tem conseguido, para agitá-la, o apoio do presidente brasileiro. A proposta das salvaguardas surgiu há mais de um ano. Brasília resistiu, inicialmente, mas aceitou prolongar o debate e acabou cedendo. O anúncio do novo esquema, denominado Cláusula de Adaptação Competitiva, poderá ocorrer em 30 de novembro, quando os presidentes Néstor Kirchner e Luiz Inácio Lula da Silva celebrarem, num encontro em Puerto Iguazú, o 20º aniversário da instituição do Dia da Amizade entre as duas nações. A data é incerta, segundo funcionários brasileiros, mas a decisão de atender o governo argentino foi tomada. A garantia foi dada às autoridades argentinas, segundo um auxiliar do presidente Kirchner, durante a Cúpula das Américas, em Mar del Plata. "Temos em relação a essa proposta um número razoável de divergências conceituais", disse o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Ivan Ramalho. Brasília discorda, por exemplo, da adoção de um gatilho cambial, acionável quando houver grandes variações de valor entre o peso e o real. Pelo menos parte dos funcionários brasileiros defende um sistema de arbitragem, acessível aos empresários quando se julgarem prejudicados por barreiras. Falta, além disso, definir claramente os conceitos de dano e ameaça de dano à produção local. O governo, segundo funcionários brasileiros, só aceitará um mecanismo com regras semelhantes ao do sistema de salvaguardas da Organização Mundial do Comércio (OMC). Mas, se o dispositivo regional for muito semelhante ao da OMC, para que adotá-lo? Para satisfazer ao governo e aos empresários protecionistas da Argentina, as autoridades brasileiras terão de aceitar, obviamente, um mecanismo de proteção mais arbitrário que o consagrado pela OMC. Nesse caso, o Mercosul será, formalmente, um bloco sujeito a barreiras mais severas, em vários aspectos, do que as do mercado global. Que integração é essa? Para os setores menos competitivos da indústria argentina, essa história de tons kafkianos pode fazer sentido: ganham proteção e não perdem as vantagens possíveis de uma integração comercial. Para a indústria brasileira, as concessões defendidas por Brasília só são aceitáveis para evitar um impasse mais custoso. Na prática, são vítimas de uma extorsão. Para Brasília, enfim, esse é o preço de uma integração necessária para enfrentar as potências do Norte. Se o Brasil aceitar as salvaguardas, disse um diplomata brasileiro, a economia argentina, protegida, terá maior facilidade para atrair investimentos. Em outras palavras, o Brasil pagará para atrair capitais para a Argentina. Em troca, parece imaginar o presidente Lula, o Brasil terá apoio contra a Alca. Dá-se a isso o nome de estratégia.
| |||
|
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
quarta-feira, novembro 16, 2005
EDITORIAIS de O ESTADO DE S.PAULO
Arquivo do blog
-
▼
2005
(4606)
-
▼
novembro
(452)
- PT, a frustração de Marx
- Pisavam nos astros, distraídos... CÉSAR BENJAMIN
- Quem pode ser contra as políticas sociais?
- José Nêumanne O mandato de Dirceu vale uma crise?
- LUÍS NASSIF Tem marciano no pedaço
- FERNANDO RODRIGUES Os sinais das bengaladas
- CLÓVIS ROSSI De "exército" a supérfluos
- EDITORIAIS DA FOLHA DE S PAULO
- MERVAL PEREIRA Continuidade
- ELIO GASPARI As leis da burocracia no apocalipse
- MIRIAM LEITÃO Destinos da América
- EDITORIAIS de O ESTADO DE S.PAULO
- EDITORIAIS de O ESTADO DE S.PAULO
- Nota (infundada) de falecimento Luiz Weis
- DORA KRAMER Controle externo subiu no telhado
- Lucia Hippolito As trapalhadas do Conselho de Ética
- O PT reescreve a história
- LUÍS NASSIF A dama de ferro
- Fazenda promete liberar R$ 2 bi para investimentos...
- JANIO DE FREITAS Pinga-pinga demais
- ELIANE CANTANHÊDE Não é proibido gastar
- CLÓVIS ROSSI Votar, votar, votar
- Jarbas Passarinho Maneiras diversas de governar
- EDITORIAIS DA FOLHA DE S PAULO
- EDITORIAIS de O ESTADO DE S.PAULO
- DORA KRAMER Movimento dos sem-prumo
- ALI KAMEL Não ao Estatuto Racial
- Arnaldo Jabor Vamos continuar de braços cruzados?
- MERVAL PEREIRA A paranóia de cada um
- Luiz Garcia Joca Hood
- MIRIAM LEITÃO Meio-termo
- AUGUSTO NUNES Iolanda só quer morrer em casa
- A hora das provas
- Carlos Alberto Sardenberg Menos é melhor
- EDITORIAIS de O ESTADO DE S.PAULO
- Denis Lerrer Rosenfield A perversão da ética
- Alcides Amaral O circo de Brasília
- FERNANDO RODRIGUES Uma boa mudança
- EDITORIAIS DA FOLHA DE S PAULO
- EDITORIAIS DA FOLHA DE S PAULO
- EDITORIAIS DA FOLHA DE S PAULO
- Lucia Hippolito O Supremo entrou na crise
- Lula é que é a verdadeira urucubaca do Brasil. Há ...
- A voz forte da CPI
- AUGUSTO NUNES O atrevimento dos guerreiros de toga
- MERVAL PEREIRA Mentiras políticas
- MIRIAM LEITÃO A balança
- Gaudêncio Torquato Lula entre o feijão e o sonho
- Paulo Renato Souza Há dez anos nascia o Provão
- DORA KRAMER Crise faz Jobim antecipar decisão
- JOÃO UBALDO RIBEIRO Os Independentes do Ritmo
- RICARDO NOBLAT Lições esquecidas em Cuba
- Celso Ming - Má notícia
- Daniel Piza O homem-bigode
- Mailson da Nóbrega Cacoete pueril
- FERREIRA GULLAR Paraíso
- DANUZA LEÃO Bom mesmo é namorar de longe
- LUÍS NASSIF O iconoclasta internacionalista
- Negociações comerciais e desindustrialização RUBEN...
- ELIO GASPARI
- JANIO DE FREITAS De olho na TV
- ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES Gargalos brasileiros Tra...
- ELIANE CANTANHÊDE O sonho da terceira via
- CLÓVIS ROSSI Nem para exportação
- EDITORIAIS DA FOLHA DE S PAULO
- As manchetes deste sábado ajudam a campanha da ree...
- VEJA Como Darwin influenciou o pensamento moderno
- VEJA André Petry Soltando os presos
- VEJA Tales Alvarenga Bolcheviques cristãos
- VEJA Diogo Mainardi Posso acusar Palocci?
- VEJA MILLÔR
- VEJA Roberto Pompeu de Toledo A farsa cruel de um ...
- VEJA PSDB e PFL pegam leve de olho na governabilidade
- VEJA Como a turma de Ribeirão quase virou dona de ...
- VEJA Palocci vence queda-de-braço com Lula
- Corrupção ontem e hoje ZUENIR VENTURA
- MERVAL PEREIRA Dilema tucano
- MIRIAM LEITÃO Boa forma
- Complacência da imprensa Mauro Chaves
- EDITORIAIS de O ESTADO DE S.PAULO
- EDITORIAIS de O ESTADO DE S.PAULO
- EDITORIAIS de O ESTADO DE S.PAULO
- DORA KRAMER Imponderados Poderes
- Fogo baixo GESNER OLIVEIRA
- FERNANDO RODRIGUES A tese da alternância
- CLÓVIS ROSSI A vassoura e a China
- EDITORIAIS DA FOLHA DE S PAULO
- EDITORIAIS DA FOLHA DE S PAULO
- EDITORIAIS DA FOLHA DE S PAULO
- LULA TEM JEITO? por Villas-Bôas Corrêa
- Lula sabia, diz empresária
- Cadastro de internet
- MERVAL PEREIRA Até Lúcifer
- LUIZ GARCIA Cuidado: eles cobram
- MIRIAM LEITÃO A lona cai
- EDITORIAIS de O ESTADO DE S.PAULO
- DORA KRAMER Impasse continuado
- LUÍS NASSIF Cartas à mesa
- "Sou Palocci desde criança" LUIZ CARLOS MENDONÇA D...
- ELIANE CANTANHÊDE Em pé de guerra
-
▼
novembro
(452)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA