Entrevista:O Estado inteligente

domingo, novembro 20, 2005

CLÓVIS ROSSI Bolcheviques

FSP
 SÃO PAULO - O primitivismo do debate público tupiniquim fez ressuscitar uma palavra (bolcheviques) que nem meu pai, que já morreu faz 36 anos, usava mais, por obsoleta.
Como o leitor inteligente terá dificuldade em ligar o nome à pessoa, informo que, para a direita raivosa, bolcheviques são os petistas, com exceção, claro, de Antonio Palocci.
Antes fossem. Pelo menos teriam um projeto de país. Bom ou mau, ganharam a eleição e teriam o direito de implementá-lo, como ocorre nas democracias.
O problema do PT está longe de ser o de ter ocupado o aparelho de Estado para implantar o socialismo. Ocupou-o para dar vazão ao apetite pessoal, político e eleitoral de seus quadros. Ou, pior, para fazer negócios. Exatamente como a direita o fez, desde as capitanias hereditárias.
O problema do PT não está em ser diferente, pela esquerda. Está em ser igual, pela direita.
Só o mais perfeito idiota acha hoje que o governo do PT ameaça o capitalismo, ameaça a propriedade privada, ameaça o sistema financeiro. Ao contrário. O governo do PT apenas reforçou o pior do capitalismo: caixa dois, rentismo, parasitismo do Estado, compadrio. Nem sequer mudaram todos os compadres. Vide Roberto Jefferson, que era compadre do governo anterior e continuou compadre do governo atual, até o rompimento em típica briga de compadres mafiosos.
O problema do PT não é o de ser bolchevique. É o fato de nem sequer ter sido capaz de ser menchevique, no sentido de aplicar o "robin-hoodismo" social-democrata de tirar algo dos que têm demais para dar à massa que pouco ou nada tem.
O problema do PT não é o de ter feito a mudança prometida, ainda que a mudança pudesse ter sido para pior. O problema do PT foi ter conservado intacto o pior que havia e há na pátria.
Podem, pois, os pais dormir em paz que o PT não vai comer suas criancinhas. Nem delas cuidar.

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