Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, abril 05, 2005

Jornal O Globo - Editorial:Oportunidade

Oportunidade


Confirmada a participação de policiais na maior chacina da história do estado, aumenta ainda mais a responsabilidade do poder público. Não se trata apenas de punir com rigor os culpados de um crime grave. É necessário ir além, por ele não ser um fato isolado: é preciso limpar a corporação policial, recuperar sua credibilidade. O assassinato indiscriminado de 30 pessoas na Baixada Fluminense, tudo indica em retaliação ao acertado enquadramento disciplinar de policiais, ultrapassou os limites.

Tudo isso é óbvio e já foi dito em outras ocasiões. Mas apesar dos clamores, normais nessas circunstâncias, o que se costuma observar é um Estado incapaz de tomar as decisões drásticas que a situação requer.

Antes de mais nada é preciso admitir e entender o que está em questão. Os protagonistas da barbárie da semana passada em Nova Iguaçu e Queimados irão se juntar a inúmeros outros que usam a farda e o distintivo como escudo para cometer crimes. Mas não se está diante de um fato comum. A chacina estabeleceu um marco nas arbitrariedades cometidas por policiais. E é sempre possível algo mais grave vir a acontecer. Tudo depende de como o Estado reagirá.

O problema é que, apesar da manifesta boa intenção de autoridades e de muitas promessas veementes de punição, tem-se a impressão de que a banda podre da polícia é invencível. Prisões são feitas, expulsões efetuadas, mas, cedo ou tarde, surge novo escândalo causado por maus policiais.

Daí a intervenção na corporação precisar ser ampla e contar com apoio federal. É extensa a lista de desencontros entre os Palácios Guanabara e do Planalto causados por desavenças político-partidárias. Mas há temas-chave — e a segurança da população é um deles — em que projetos pessoais têm de ficar em segundo plano. Agora mesmo, a anunciada vinda da Força Nacional para o Rio é uma oportunidade para os dois governos trabalharem de fato juntos nessa área estratégica.

O desafio de sanear a polícia é tão grande quanto imprescindível — o que também não é novidade. Mas são décadas de desmandos e de condescendência de governantes. O resultado é o que se vê.

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