Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
domingo, abril 10, 2005
Janio de Freitas:João e João
João Paulo 2º já é história. Mas história ainda por ser estudada. Nem mesmo o mais notório dos seus atributos, a capacidade de atrair e siderar multidões, está ainda compreendido nas suas perturbadoras contradições.
Movimentos de massa espontâneos existem nas interpretações de historiadores, são uma referência conceitual em certas obras sobre psicologia social, mas não existem na realidade. Todos resultam de alguma indução, menos ou mais explícita, deliberada ou não, explosivamente repentina ou vagarosamente cumulativa. O pontificado de João Paulo 2º inscreve-se nessa relação de causa e efeito.
A face externa do pontificado de João Paulo 2º consistiu, sobretudo, em incessante sobreposição de gestos e palavras que o envolviam em uma aura, cada vez maior, de simpatia humana e de simbolismos universais.
Mesmo o inesperado, o que jamais poderia ser atos por ele estudados, engrandeceu a sua aura com elementos de comoção acima de indiferenças religiosas ou outras. O atentado, por exemplo. O papa atingido por um tiro covarde, quando se oferecia ao convívio direto dos fiéis, situou-o no centro de um abalo comovente em todo o mundo. As expectativas de sua problemática recuperação e logo a retomada do seu périplo continentes afora, com a bem visível luta para impor seu propósito missionário à fragilidade do convalescente, injetaram comoção diretamente nos corações oferecidos à TV.
Depois, quase sem intervalo, o início da doença, o mal de Parkinson. Dia a dia, a progressão da doença e do sofrimento testemunhados publicamente. A voz se perdendo, o corpo curvando-se sobre si mesmo, a cabeça pendendo mais para o lado a cada nova aparição, a benção como penosa exigência ao braço e à mão: o papa imolou-se aos olhos do mundo. E a Cúria do Vaticano não poupou sua contribuição para o fenômeno multitudinário que envolveu a agonia e morte de João Paulo 2º.
Mas a progressiva redução dos fiéis católicos e o continuado esvaziamento dos seminários ao longo do pontificado de João Paulo 2º, constatados em estudos da própria Igreja Católica, assinalam outro e mais curioso fenômeno: a adesão das multidões concentrou-se na pessoa. João Paulo 2º não pôde transferir à sua Igreja aquilo que soube angariar. Uma contradição que se explica, provavelmente, em parte pela teologia praticada por João Paulo 2º, mas que, para o restante, depende de uma compreensão mais larga e mais densa, mais propriamente humana. A compreensão, pelo menos, de que as religiões não existem no divino, mas no humano.
Qual é a mensagem nova deixada por João Paulo 2º? Que idéia nova fará João Paulo 2º lembrado? Por certo, ficam imagens, lembranças físicas, doces umas, outras comoventes. Sobre todas, as imagens de um homem sofrendo as suas dores, como milhões de outros em cada minuto da Terra - mas anônimos, a maioria deles esquecida.
João 23, essa é a diferença, fez avançar a humanidade. Seu pequeno pontificado, de apenas cinco anos, transpôs mais de mil. Transformou anátemas em comunhões. Divisões transformaram-se em ecumenismo, preconceitos em tolerância. João Paulo 2º recebeu os olhares do mundo. João 23 atraiu o olhar da humanidade para a Igreja - mas foi há quase 40 anos, e 40 anos nunca pareceram tão distantes.
Folha de S.Paulo -
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Arquivo do blog
-
▼
2005
(4606)
-
▼
abril
(386)
- VEJA Entrevista: Condoleezza Rice
- Diogo Mainardi:Vamos soltar os bandidos
- Tales Alvarenga:Espelho, espelho meu
- André Petry:Os corruptos de fé?
- Roberto Pompeu de Toledo:A jóia da coroa
- Baby, want you please come here - Shirley Horn, vo...
- O mapa da indústria GESNER OLIVEIRA-
- JANIO DE FREITAS:A fala do trono
- FERNANDO RODRIGUES:220 vezes "eu"
- CLÓVIS ROSSI :Distante e morno
- PRIMEIRA COLETIVA
- Dora Kramer:Lula reincorpora o candidato
- AUGUSTO NUNES :Entrevista antecipa tática do candi...
- Merval Pereira:Mãos de tesoura
- Miriam Leitão:Quase monólogo
- O dia em que o jornalismo político morreu
- Eles, que deram um pé no traseiro da teoria política
- Lucia Hippolito: O desejo de controlar as informações
- Goin way blues - McCoy Tyner, piano
- O novo ataque ao Copom - LUIZ CARLOS MENDONÇA DE B...
- JANIO DE FREITAS :Mensageira da crise
- FHC concedeu coletiva formal ao menos oito vezes
- CLÓVIS ROSSI :Todos são frágeis
- ELIANE CANTANHÊDE :Pelo mundo afora
- NELSON MOTTA:Coisas da política ou burrice mesmo?
- Dora Kramer: PFL quer espaço para Cesar
- Miriam Leitão:Dificuldade à vista
- Luiz Garcia :Tiros sem misericórdia?
- Merval Pereira:Barrando o terror
- Villas-Bôas Corrêa: A conversão de Severino
- Lucia Hippolito: A hora das explicações
- Let’s call this - Bruce Barth, piano
- CÂMBIO VALORIZADO
- CLÓVIS ROSSI :Quem manda na economia?
- ELIANE CANTANHÊDE :"Milhões desse tipo"
- DEMÉTRIO MAGNOLI:Preto no branco
- LUÍS NASSIF :As prestações sem juros
- Dora Kramer:À sombra dos bumerangues
- Miriam Leitão:Erro de identidade
- Merval Pereira:Sentimentos ambíguos
- Guilherme Fiuza:A culpa é do traseiro
- Georgia on my mind - Dave Brubeck, piano.
- Lucia Hippolito: Ele não sabe o que diz
- PALPITE INFELIZ
- TUDO POR UMA VAGA
- CLÓVIS ROSSI:Presidente também é 'comodista'
- FERNANDO RODRIGUES:Os traseiros de cada um
- "Liderança não se proclama", afirma FHC
- O dogma de são Copom- PAULO RABELLO DE CASTRO
- LUÍS NASSIF:Consumo e cidadania- ainda o "levantar...
- Dora Kramer:Borbulhas internacionais
- Zuenir Ventura:Minha pátria, minha língua
- ELIO GASPARI:Furlan e Bill Gates x Zé Dirceu
- Miriam Leitão: Nada trivial
- Merval Pereira:Palavras ao léu
- REFLEXOS DO BESTEIROL
- Villas-Bôas Corrêa: A greve das nádegas
- AUGUSTO NUNES:O Aerolula pousa no mundo da Lua
- VEJA:Jorge Gerdau Johannpeter
- XICO GRAZIANO:Paulada no agricultor
- Por que ele não levanta o traseiro da cadeira e fa...
- Lucia Hippolito: Eterno enquanto dure
- Luiz Garcia:Sandices em pleno vôo
- Arnaldo Jabor:Festival de Besteira que Assola o País
- Miriam Leitão:Economia esfria
- Merval Pereira:Liberou geral
- GUERRA PETISTA
- Clóvis Rossi:Apenas band-aid
- ELIANE CANTANHÊDE:De Brasília para o mundo
- JANIO DE FREITAS:Os co-irmãos
- Dora Kramer: Sai reforma, entra ‘mudança pontual’
- AUGUSTO NUNES O pêndulo que oscila sobre nós
- Resgate em Quito (filme de segunda)
- Round midnight - Emil Virklicky, piano; Juraf Bart...
- Reforma política, já- Lucia Hippolito
- INCERTEZA NOS EUA
- VINICIUS TORRES FREIRE :Bento, Bush e blogs
- FERNANDO RODRIGUES: Revisão constitucional
- Os trabalhos e os dias- MARCO ANTONIO VILLA
- Zelão / O Morro Não Tem Vez - Cláudia Telles
- Fora de propósito
- JOÃO UBALDO RIBEIRO:Viva o povo brasileiro
- Merval Pereira: O desafio das metrópoles
- Miriam Leitão:Música e trégua
- DEMOCRACIA INACABADA
- GOLPE E ASILO POLÍTICO
- CLÓVIS ROSSI:A corrida pela esperança
- ELIANE CANTANHÊDE:Asilo já!
- ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES: Reforma tributária e ga...
- ELIO GASPARI:A boca-livre deve ir para Quito
- JANIO DE FREITAS:Sonho de potência
- LUÍS NASSIF Racismo esportivo
- Quando as cidades dão certo - JOSÉ ALEXANDRE SCHEI...
- AUGUSTO NUNES: O encontro que Lula evita há dois anos
- O depoimento de uma brasileira no Equador
- Sabiá - Elis Regina]
- Diogo Mainardi:A revolução geriátrica
- Tales Alvarenga:Assume mas não leva
- André Petry: Isso é que é racismo
- Roberto Pompeu de Toledo:Fato extraordinário:um pa...
-
▼
abril
(386)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA
Nenhum comentário:
Postar um comentário