Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, abril 07, 2005

FOLHA DE S.PAULO LUÍS NASSIF:O fim do café mofado



Em 2000 , as lideranças mais anacrônicas da cafeicultura se lançaram rumo à sua última aventura: a implantação de mais uma política de retenção de café, visando inflar artificialmente os preços internacionais. Todas as outras aventuras -de Oswaldo Aranha, no segundo governo Dutra, a Saulo Ramos, no governo Sarney, e Zélia, no governo Collor- terminaram em desastres, com os preços despencando e outros países ocupando o espaço do café brasileiro.
O país já começara a trilhar o caminho dos cafés especiais. Várias marcas estavam surgindo, agregando valor. Cooperativas como a Cooxupé, de Guaxupé, e a do Cerrado investiam pesadamente em exportações e marca, abrindo mercado, explorando nichos.
Tudo foi interrompido pela loucura da política de retenção -que acabou sendo a grande mancha na gestão, em geral elogiável, do ministro da Agricultura, Marcus Vinicius Pratini de Moraes.
Na época, critiquei acerbamente a iniciativa. A resposta dessas lideranças foi uma campanha pesada por todo o setor, acusando-me de estar a serviço de multinacionais. Chegaram ao cúmulo de simular um abaixo-assinado "denunciando" a coluna, valendo-se de um expediente malandro: circularam uma cópia que anunciava a adesão de uma enorme lista de cooperativas, sem que elas tivessem sido consultadas, tentando criar efeito manada. A esperteza foi abortada depois que houve o desmentido rápido e incisivo de várias delas.
Essa campanha não extrapolou o âmbito do próprio setor e tinha como único objetivo desqualificar as críticas para facilitar a ação intramuros dessas lideranças -cujos dois mais ativos membros eram o ex-ministro Carlos Melles, da Valparaiso, de São Sebastião do Paraíso, e, Manuel Bertone, da Cooperativa de Garças (Garcafé). Com o espaço conquistado, passaram a empurrar com a barriga problemas sem saída de suas cooperativas, com a securitização e a rolagem permanente de dívidas, à custa do Funcafé.
Dias atrás, ensaiaram a última esperteza, a criação da Global, uma grande trading unindo várias cooperativas, a maioria com problemas sérios.
O jogo acabou. Uma das primeiras manifestações do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, respondendo a uma provocação da coluna, é que não haveria mais espaço para essas práticas anacrônicas.
Agora, a Cooperativa de Poços de Caldas quebrou, a de Valparaiso está em situação complicada e, na semana passada, a de Garças apresentou um rombo estimado em R$ 40 milhões. Bertone foi destituído, e suas contas, rejeitadas.
Enquanto isso, floresce por todo o país uma nova mentalidade entre os cafeicultores, agregando valor, qualidade e marca aos seus produtos.
Embora os cooperados tenham que arcar com os prejuízos, o que se espera é um inquérito rigoroso, que ajude a levantar de forma clara as contas, as regras de rateio de prejuízos e, principalmente, as responsabilidades civis dos gestores.

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