Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, abril 01, 2005

Folha de S.Paulo -ELIANE CANTANHÊDE:A alma da crise

BRASÍLIA - José Dirceu pode ter todos os defeitos do mundo, mas é difícil imaginar um governo Lula sem ele. Sua queda fez muito sentido à época do escândalo Waldomiro Diniz, pelo menos até que (e se) tudo ficasse em pratos limpos. Mas não faz sentido agora.
Dirceu é acusado de stalinista, de centralizador, de ambicioso e de mentiroso, enquanto Aldo Rebelo é um doce. Mas Dirceu tem forte influência no PT, e Rebelo não tem influência nem no PT, nem no governo, nem nos aliados, nem no Congresso.
Como diz Severino Cavalcanti, Aldo "é o melhorzinho, mas não resolve nada". Ou seja, é o ministro que abre a porta, bate papo, discute um pouco de história e literatura, mas e daí?
É verdade que Lula desautoriza tanto Dirceu quanto Aldo e faz o que está na própria cabeça (ou não faz, como na reforma ministerial). Mas Dirceu, pelo menos, é uma referência. E Aldo? Em resumo: se dá para fazer uma aposta, é mais fácil Dirceu ficar e Aldo sair do que o contrário.
Numa outra comparação -esta, sim, a que de fato interessa-, Dirceu é o homem do confronto, enquanto Palocci é o da composição. Vira e mexe, os dois disputam espaço no poder e a simpatia de Lula -não necessariamente nessa ordem. Palocci segue ganhando todas, e Dirceu perde muitas. O resultado são derrotas políticas, e elas não são só de Dirceu. São, sobretudo, do próprio Lula.
É incrível a capacidade dos petistas (e de seus satélites, como os do PC do B de Aldo) de se devorarem mutuamente. Parece estar na gênese do poder -e muito particularmente das esquerdas. Em São Paulo, a coisa não está diferente de Brasília: Marta quer devorar Mercadante, que quer devorar João Paulo Cunha, que quer devorar os dois. O risco é tanta divisão virar prenúncio de derrota.
E Lula? Faz brilhareco no exterior e deixa o pau quebrar no interior -no interior do seu próprio governo.

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