Correio Braziliense - 02/03/2011 |
Os Estados Unidos, com Obama na presidência, têm uma política para a América Latina? Perguntou a si próprio Arturo Valenzuela, encarregado da América Latina no Departamento de Estado. Valenzuela depôs no subcomitê da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos a cargo do nosso continente. Obama visitará países latino-americanos de 17 a 23 de março, tempo ainda mais espremido do que a curta visita feita por Bush, seu antecessor, em 2007. A incursão incluirá somente três países, Brasil, Chile e El Salvador. De acordo com a Latin News, editada em Londres, isso é compreendido, tais os graves problemas que os Estados Unidos enfrentam em outras partes do mundo, como no Oriente Médio Os na América Latina são vistos no momento como de escassa prioridade. Mas pelo menos uma ausência causa estranheza, a da Colômbia, que é o mais firme aliado dos Estados Unidos no continente, recebe gordas verbas para combate ao narcotráfico e continua às voltas com um renitente espasmo guerrilheiro. Ultimamente recebe inclusive assessores militares dos Estados Unidos, que migraram da base americana fechada no Equador, onde foi eleito presidente um populista de esquerda. Mas há uma explicação, se é possível explicá-la, como querem especialistas. O Plano Colômbia, de assistência militar, tem verbas reduzidas no projeto de orçamento de 2012, encaminhado por Obama ao Congresso americano. As visitas escolhidas por Obama ficam entre simbólicas e pragmáticas. O Brasil tem um papel proeminente na América Latina e é preciso reconhecê-lo. Além disso, é o que se pensaria em Washington, um encontro entre os dois presidentes talvez permita ir mais fundo nos quesitos Irã, alvo indireto da posição do Brasil favorável a que o Conselho dos Direitos Humanos da ONU examine violações onde elas aconteçam, e Honduras, cujo governo o Brasil não reconhece, por considerá-lo ilegítimo. Não é o que acham os Estados Unidos, muitos felizes com a eleição de um presidente que tomou o lugar de outro, de estilo venezuelano. Há outras perguntas "implícitas". Os países do Ocidente, notadamente os Estados Unidos, aceitarão que as ações do Conselho alcancem afinal seus aliados, sobretudo os montados em petróleo ? Irã e Honduras estarão na agenda de Obama em Brasília, no que especialistas chamam de "teste de relações". Haverá mudanças "substantivas"? É o que se pergunta no Departamento de Estado, em relação às posições de Lula. Foi anotada a mobilização anti-Kadafi no Conselho de Segurança da ONU, conduzida pela diplomata brasileira — no momento exercendo a presidência do órgão encarregado de velar pela paz e a ordem no mundo. Já o Chile é visto como espécie de modelo, sobretudo em política, com arraigada tradição democrática que voltou a afirmar-se, no pós–Pinochet, transitando de um longo período de centro-esquerda, em palácio, para um de centro-direita. O Chile também atraiu atenção mundial com o resgate de 33 mineiros, com eficiência e profissionalismo, soterrados numa mina de cobre. El Salvador tem se mostrado um firme aliado dos Estados Unidos na América Central, embora seu presidente tenha se elegido como candidato da Frente Farabundo Marti de Libertação Nacional. São os ex-guerrilheiros que no passado foram combatidos pelos Estados Unidos. A visita de Obama a El Salvador tem sobretudo o objetivo de fazer um levantamento geral da situação na América Central. O presidente americano quer mostrar que em El Salvador se pratica um esquerdismo "responsável e moderado", em oposição ao chavismo. El Salvador e Chile fizeram há pouco alternância do poder nos dois sentidos, da esquerda para a direita e da direita para a esquerda. El Salvador ajudou a tirar Honduras "do frio". Em seu depoimento no Congresso, Valenzuela disse que é preciso "consolidar na América Latina instituições democráticas vibrantes". Seu testemunho chamou-se de "Os Estados Unidos têm uma política para a América Latina?" De novo uma pergunta insistente. Disposto a dar algumas respostas, Valenzuela visitou El Salvador em 10 e 11 de fevereiro, preparando a ida de Obama, o que dá a medida da importância atribuída a esse pais centro-americano. Os Estados Unidos enfrentaram não faz muito tempo situações complicadas na América Central. Situações de guerra e o sandinismo, contra o qual lutaram, venceu eleições na Nicarágua. Alternância em cheque? O presidente sandinista Daniel Ortega, que manifestou solidariedade a Kadafi, quer reeleger-se em 2011. Há pouco, quase coincidindo com o depoimento de Valenzuela, o secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, disse em entrevista ao El Tiempo, da Colômbia, que a democracia deve ter limites institucionais. Criticava as buscas de eleições continuadas, como na Venezuela. Falou em "concentração do poder", o que considera antidemocrático. A Venezuela, mais uma vez, como alvo. "Não podemos ficar mudos, o que seria aceitar situações como essa", arrematou Valenzuela. "Como saudamos líderes populares que optaram por deixar o poder, de acordo com a alternância democrática, lamentamos mudanças constitucionais que beneficiem quem está no poder", concluiu quem está a cargo da América Latina no Departamento de Estado. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, março 02, 2011
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