Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, março 15, 2011

Fernando de Barros e Silva -Liberais de fachada

FOLHA DE S. PAULO
Não há mais partidos "liberais" no Brasil. Reportagem de Uirá Machado
e Mauricio Puls, na Folha de ontem, mostrou que a partir da
redemocratização, em 1985, das oito legendas que usaram a expressão
"liberal" no nome só resta o nanico PSL, "social liberal".

O PL se fundiu com o Prona e virou PR em 2006; o PFL resolveu ser
Democratas em 2007. O primeiro cresceu à sombra dos governos Lula e
Dilma. O segundo mingua porque não consegue sobreviver na oposição.
Ambos são partidos de direita. E nenhum dos dois nunca foi, a rigor,
"liberal". São variações do clientelismo brasileiro.

"Liberal" é uma marca em desuso. Em termos substantivos, o liberalismo
por aqui nunca passou de fantasia retórica, mais ou menos conveniente
às elites dirigentes, conforme o período histórico.

Já fomos escravocratas na prática e "liberais" no discurso; ainda hoje
somos, em grande medida, reféns do patrimonialismo, apesar dos ares
modernizadores depois de quase duas décadas de hegemonia política de
PSDB e PT. Em parte, ambos foram assimilados pelas forças do atraso,
com as quais convivem em relativa harmonia, sempre em nome da
"governabilidade".

O fato é que ainda somos bastante conservadores, embora nosso último
partido "conservador" tenha morrido com a República Velha. O atual
"consenso social-democrata" que se formou no país com FHC e Lula
merecerá mesmo esse nome?

Não, se pensarmos no Estado de Bem-Estar Social e na universalização
de direitos básicos que ele pressupõe. Nossas escolas públicas não
ensinam, nossos hospitais públicos ainda maltratam seus doentes. Um
programa de exceção, como o Bolsa Família, que serve de paliativo para
aplacar a miséria extrema, se tornou a grande vitrine social do
lulismo. Social-democracia, isso?

Temos, se tanto, um Estado de Mal-Estar Social. Parece, ainda, um
problema bem mais sério que os muxoxos dos liberais de fachada à
procura da identidade perdida.

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