Depois de visitar a "favela pacificada", Barack Obama fez à tarde no
Theatro Municipal do Rio um discurso calculado para adular o Brasil.
Simpático e articulado, mas também demonstrando certa condescendência
com o país diante da plateia de elite que estava ali para aplaudi-lo
de pé. Um discurso, afinal, protocolar e de conteúdo um tanto chocho,
que só foi histórico para nós. Yes, we créu.
Não se pode compará-lo, em importância ou desenvoltura, à sua fala
para o mundo muçulmano na Universidade do Cairo, em 2009.
A máquina retórica do presidente americano é sempre poderosa.
Conhecendo-se, porém, a realidade a que ele se refere, ficam
transparentes as concessões do estadista ao discurso publicitário,
preso a generalidades e a clichês amáveis.
Isso vale para o surrado "país abençoado por Deus e bonito por
natureza". Vale ainda mais para a citação infeliz de Paulo Coelho, no
final. Mas talvez faça sentido. Estamos, como nação, mais próximos do
Mago da besteira global do que do Bruxo do Cosme Velho, Machado de
Assis. Yes, we créu!
A menção inicial a "Orfeu da Conceição", embora também estereotipada,
ao menos recorda a peça de Vinicius de Moraes, em que pela primeira
vez um ator negro subiu no palco do municipal carioca. Podemos
lembrar, com ironia, que enfim um negro subiu a rampa do Palácio do
Planalto. Afinal, somos um país miscigenado. Yes, we créu!
A família Obama, civilizadíssima e despojada, não deixa de evocar para
nós uma espécie de "brazilian dream", o sonho de uma sociedade mais
inclusiva e educada.
Quem sabe chegamos lá. Enquanto isso, fazemos graça com a foto de
Mussum e a legenda "Obamis". Progredimos, mas continuamos tirando
vantagem do atraso, cheios de humor de corte oswaldiano,
antropofágico. Yes, we créu!