Barack Obama lamentou ter chegado ao Rio de Janeiro depois do
carnaval. Não seja por isso. Não há nada mais carnavalesco do que a
sua chegada.
No grande coquetel de espuma e purpurina de que é feita a diplomacia
internacional, uma alegoria se destaca na visita do presidente
americano: a discussão sobre uma vaga para o Brasil no Conselho de
Segurança da ONU.
É mesmo um tema crucial. Com essa vaga, os brasileiros finalmente
mostrarão ao mundo quem são.
E quem são? São os bons e velhos pedintes, especialistas na arte de se
candidatar a uma boquinha aqui e acolá. De preferência, aquelas que
não exigem currículo do candidato.
Nos coloquemos no lugar dos atuais membros do Conselho de Segurança,
diante da questão de abrir uma vaga para o Brasil. Quais são as
credenciais do candidato a integrar o clube dos que arbitram os
conflitos do mundo?
São credenciais fortes. De saída, o Brasil é o país que apóia o
programa nuclear clandestino do Irã, e se tornou aliado político do
tarado radioativo de lá. Como se sabe, a radioatividade está na moda.
Ponto para nós.
Também é o Brasil aquele que, nos últimos anos, andou de mãos dadas
para cima e para baixo com Muammar Kadafi – o nome que mais inspira
segurança ao mundo no momento. Mais uma credencial eloqüente.
Foi o Brasil que se meteu em Honduras, fazendo da sua embaixada um spa
para o presidente deposto e seus amigos tocarem violão e sonharem com
Che Guevara, enquanto jogavam pedras nos passantes. Foi a intervenção
diplomática mais inócua da história, mas fez a alegria do coronel Hugo
Chávez, outro símbolo do pacifismo tarja preta.
É também o Brasil, e seu governo popular, o principal fiador
latino-americano do regime de Fidel Castro.
Como se vê, Obama e o Conselho de Segurança da ONU têm todos os
motivos para abrir uma vaga ao Brasil. A paz mundial não pode esperar
mais um minuto por esse novo árbitro altamente qualificado.
E o Brasil? Por que quer tanto essa vaga? De onde vem tal convicção de
que precisamos definitivamente figurar nesse fórum de potências
militares, participando de suas decisões bissextas e eventualmente
inúteis?
Não se sabe ao certo. Alguém deve ter soprado à diplomacia brasileira
que o jetom é gordo.
Além do habitual chororô pró-forma sobre barreiras comerciais, e da
inevitável macumba para turista, a recepção a Barack Obama serviu para
se escrever mais um capítulo dessa novela surrealista do Conselho de
Segurança.
O presidente americano nem precisou escutar o batuque para sair com a
certeza: este é o país do carnaval.