O ESTADO DE SÃO PAULO - 13/03/11
Nos primeiros 60 dias deste ano, o Brasil recebeu US$ 24,4 bilhões em capitais líquidos, mais do que em todo o ano de 2010.
É verdade que os juros cada vez mais altos aqui no Brasil são fator de forte atração de dólares. Mas sempre que alguém se lembra disso, a primeira coisa que vem à cabeça é que empresas e pessoas físicas se põem a especular furiosamente com a diferença de juros: levantam lá fora empréstimos a juros em torno de 3% ao ano, transferem esses recursos para cá, convertem em reais, e, em seguida, tiram proveito, no mole, de remuneração que hoje está no mínimo em 11,75% ao ano, o nível dos juros básicos (Selic). É a tal operação que, no jargão do mercado, leva o nome de carry trade de curto prazo.
Mas a diferença com juros não atrai apenas esse tipo de operação. A tabela mostra quais foram as operações de empréstimo externo por meio da colocação de títulos ou bônus por parte das empresas brasileiras neste início de 2011. Também essas empresas tiram proveito dos juros mais baixos lá fora. A maioria delas tem envergadura e cadastro para levantar empréstimos internos. Mas prefere uma operação de dívida externa porque proporciona um custo financeiro mais baixo.
Os levantamentos do Banco Central mostram que, na média, os bancos estão cobrando no Brasil juros de cerca de 30% ao ano nas operações de empréstimo para capital de giro. É claro que empresas de primeira linha obtêm financiamentos a custos muito mais baixos, provavelmente abaixo de 15% ao ano. Mas, ainda assim, mais altos do que os 6% ou 7% ao ano pagos pelas captações externas. Isso significa que a entrada de moeda estrangeira por essa porta (empréstimos externos) tende a aumentar. Só a Petrobrás, que já captou US$ 6 bilhões em janeiro, já avisou que levantará para suas necessidades de caixa mais US$ 17 bilhões até 2014.
Enfim, é forte a entrada de recursos externos tanto por meio da colocação de títulos lá fora como por meio de Investimentos Estrangeiros Diretos (IED). Essas operações concorrem muito mais para a valorização do real (baixa do dólar no câmbio interno) do que, por exemplo, concorrem para isso as operações de especulação com juros hoje taxadas em 6% pelo Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
O que se pergunta é se, para evitar a excessiva valorização do real, que derruba a competitividade do setor produtivo nacional, o governo não deveria controlar também a entrada desses capitais. Há gente no governo que defende a pré-seleção das captações e dos investimentos estrangeiros. É uma autoridade qualquer se postando à porteira para decidir, caso a caso, qual carneiro deve passar e qual não deve.
Casuísmos assim não podem ser inteiramente descartados, mas são de complicada administração e implicam alto grau de subjetividade, aumento da burocracia e perda de tempo. E perda de tempo não é uma questão menor porque o mercado não espera. O momento melhor para um levantamento de empréstimo não pode ficar à mercê da canetada de um funcionário público.
Celso Ming - O Estado de S.Paulo
Nos primeiros 60 dias deste ano, o Brasil recebeu US$ 24,4 bilhões em capitais líquidos, mais do que em todo o ano de 2010.
É verdade que os juros cada vez mais altos aqui no Brasil são fator de forte atração de dólares. Mas sempre que alguém se lembra disso, a primeira coisa que vem à cabeça é que empresas e pessoas físicas se põem a especular furiosamente com a diferença de juros: levantam lá fora empréstimos a juros em torno de 3% ao ano, transferem esses recursos para cá, convertem em reais, e, em seguida, tiram proveito, no mole, de remuneração que hoje está no mínimo em 11,75% ao ano, o nível dos juros básicos (Selic). É a tal operação que, no jargão do mercado, leva o nome de carry trade de curto prazo.
Mas a diferença com juros não atrai apenas esse tipo de operação. A tabela mostra quais foram as operações de empréstimo externo por meio da colocação de títulos ou bônus por parte das empresas brasileiras neste início de 2011. Também essas empresas tiram proveito dos juros mais baixos lá fora. A maioria delas tem envergadura e cadastro para levantar empréstimos internos. Mas prefere uma operação de dívida externa porque proporciona um custo financeiro mais baixo.
Os levantamentos do Banco Central mostram que, na média, os bancos estão cobrando no Brasil juros de cerca de 30% ao ano nas operações de empréstimo para capital de giro. É claro que empresas de primeira linha obtêm financiamentos a custos muito mais baixos, provavelmente abaixo de 15% ao ano. Mas, ainda assim, mais altos do que os 6% ou 7% ao ano pagos pelas captações externas. Isso significa que a entrada de moeda estrangeira por essa porta (empréstimos externos) tende a aumentar. Só a Petrobrás, que já captou US$ 6 bilhões em janeiro, já avisou que levantará para suas necessidades de caixa mais US$ 17 bilhões até 2014.
Enfim, é forte a entrada de recursos externos tanto por meio da colocação de títulos lá fora como por meio de Investimentos Estrangeiros Diretos (IED). Essas operações concorrem muito mais para a valorização do real (baixa do dólar no câmbio interno) do que, por exemplo, concorrem para isso as operações de especulação com juros hoje taxadas em 6% pelo Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
O que se pergunta é se, para evitar a excessiva valorização do real, que derruba a competitividade do setor produtivo nacional, o governo não deveria controlar também a entrada desses capitais. Há gente no governo que defende a pré-seleção das captações e dos investimentos estrangeiros. É uma autoridade qualquer se postando à porteira para decidir, caso a caso, qual carneiro deve passar e qual não deve.
Casuísmos assim não podem ser inteiramente descartados, mas são de complicada administração e implicam alto grau de subjetividade, aumento da burocracia e perda de tempo. E perda de tempo não é uma questão menor porque o mercado não espera. O momento melhor para um levantamento de empréstimo não pode ficar à mercê da canetada de um funcionário público.
CONFIRA
Devagar com esse andor
Algumas pessoas olharam para a evolução do IGP-M (primeira prévia de março) e concluíram, apressadamente, que a alta dos preços dos alimentos está sendo revertida. Os preços no atacado estão de fato subindo menos e provavelmente continuarão nessa desaceleração por mais algumas semanas.
Cresce a demanda
Mas não dá para fazer uma aposta firme na deflação das commodities alimentares. O fator prevalecente ainda é o de aumento do consumo global num cenário de estoques reduzidos. Ou seja, o mercado continua estruturalmente desequilibrado.
E o petróleo?
São elementos que valem também para o petróleo. A última esticada de preços deflagrada pela crise na comunidade islâmica refluiu em boa parte. Mas, a qualquer momento, pode voltar. Por trás desses movimentos há um mais importante, que é o aumento do consumo de energia dos asiáticos, principalmente da China. Esse fator continua atuando.
CONFIRA
Devagar com esse andor
Algumas pessoas olharam para a evolução do IGP-M (primeira prévia de março) e concluíram, apressadamente, que a alta dos preços dos alimentos está sendo revertida. Os preços no atacado estão de fato subindo menos e provavelmente continuarão nessa desaceleração por mais algumas semanas.
Cresce a demanda
Mas não dá para fazer uma aposta firme na deflação das commodities alimentares. O fator prevalecente ainda é o de aumento do consumo global num cenário de estoques reduzidos. Ou seja, o mercado continua estruturalmente desequilibrado.
E o petróleo?
São elementos que valem também para o petróleo. A última esticada de preços deflagrada pela crise na comunidade islâmica refluiu em boa parte. Mas, a qualquer momento, pode voltar. Por trás desses movimentos há um mais importante, que é o aumento do consumo de energia dos asiáticos, principalmente da China. Esse fator continua atuando.
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Arquivo do blog
-
▼
2011
(2527)
-
▼
março
(225)
- Combaten con las mismas armas Joaquín Morales Solá
- Joaquín Morales Solá Un país que camina hacia el a...
- Uma viagem útil :: Paulo Brossard
- CELSO MING Alargamento do horizonte
- DENIS LERRER ROSENFIELD Fraternidade e natureza
- CARLOS ALBERTO SARDENBERG Pouca infraestrutura e m...
- Con amigos como Moyano, ¿quién necesita enemigos? ...
- Otra crisis con la Corte Suprema Joaquín Morales Solá
- Gaudencio Torquato A democracia supletiva
- VINÍCIUS TORRES FREIREFutricas público-privadas VI...
- Um itaparicano em Paris JOÃO UBALDO RIBEIRO
- Tão bela e tão bregaDANUZA LEÃOFOLHA DE SÃO PAULO ...
- Ferreira Gullar A espada de Damocles
- Miriam Leitão No mar,de novo
- Durou Caldas Poder autoritário
- Dora Kramer Itamaraty, o retorno
- Nerval Pereira Desafios na gestão
- JAMES M. ACTON Energia nuclear vale o risco
- GUILHERME FIUZA Obama e o carnaval
- Boris Fauto Século das novas luzes
- Fernando de Barros e Silva Yes, we créu!
- Ricardo Noblat Ó pai, ó!
- Luiz Carlos Mendonça de Barros A presidente Dilma ...
- Fabio Giambiagi O mínimo não é mínimo
- José Goldemberg O acidente nuclear do Japão
- Carlos Alberto Di Franco Imprensa e política
- PAULO RABELLO DE CASTRO Sobre os demônios que nos ...
- MAÍLSON DA NÓBREGA Tributos: menor independencia o...
- RUTH DE AQUINO Militantes, “go home”
- CELSO LAFER A ''Oração aos Moços'', de Rui Barbosa...
- YOANI SÁNCHEZ Letras góticas na parede
- MÍRIAM LEITÃO Afirmação e fato
- CELSO MING Perigo no rótulo
- ETHEVALDO SIQUEIRA A segurança está em você
- JIM O'NEILL O Japão e o iene
- VINICIUS TORRES FREIRE Chiclete com Obama
- SUELY CALDAS A antirreforma de Dilma
- FERREIRA GULLAR O trinado do passarinho
- JOÃO UBALDO RIBEIRO Vivendo de brisa
- DANUZA LEÃO Pode ser muito bom
- MARCELO GLEISER Conversa Sobre a Fé e a Ciência
- Riodan Roett: ''O estilo Lula foi um momento, e já...
- Dora Kramer Conselho de Segurança
- Merval Pereira O sexto membro
- Rubens Ricupero Decepção na estréia
- VINICIUS TORRES FREIRE Dilma está uma arara
- Míriam Leitão Cenários desfeitos
- Merval Pereira O Brasil e a ONU
- Guilherme Fiuza O negro, a mulher e o circo
- ENTREVISTA FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
- Nelson Motta -O tango do absurdo
- Míriam LeitãoAntes e depois
- Fernando de Barros e Silva Inflação na cabeça
- Merval Pereira Modelo aprovado?
- Roberto Freire Todo cuidado é pouco
- Celso Ming Não à inflação
- Dora Kramer Boa vizinhança
- Fernando Gabeira Obama no Brasil
- Rogério Furquim Werneck Instrumentos adulterados
- Energia - a chance de discutir sem soberba- Washin...
- Míriam Leitão Sol levante
- Merval Pereira A janela de Kassab
- Dora Kramer Pela tangente
- Celso Ming -Mudar o paradigma?
- Alberto Tamer Japão tem reservas anticrise
- Roberto Macedo Um filme ruim só no título
- Adriano Pires O monopólio da Petrobrás no setor el...
- Eugênia Lopes Jetom de estatais faz ministros esto...
- Carlos Alberto Sardenberg Eles vão sair dessa!
- Demétrio Magnoli A maldição do pré-sal
- Fábio Giambiagi A lógica do absurdo
- O presunçoso gerente de apagões veste a fantasia d...
- VINICIUS TORRES FREIRE Síndrome do pânico e do Japão
- Yoshiaki Nakano Para aprimorar o sistema de metas
- Merval Pereira Acordo no pré-sal
- Celso Ming Mais incertezas
- Dora Kramer Inversão de culpa
- Paul Krugman Fusão macroeconômica
- Rolf Kuntz Emprego, salário e consumo
- José Nêumanne A caixa-preta da Operação Satiagraha
- Vinícius Torres Freire-A importância de ser prudente
- Míriam Leitão-Efeito Japão
- Raymundo Costa-A força do mensalão no governo Dilma
- Fernando de Barros e Silva -Liberais de fachada
- Merval Pereira Começar de novo
- Celso Ming - Risco nuclear
- Dora Kramer Em petição de miséria
- José Serra Cuidado com a contrarreforma
- José Pastore A real prioridade na terceirização
- J. R. Guzzo Beleza e desastre
- Paulo Brossard Orçamento clandestino
- Marco Antonio Rocha Só indiretamente dá para perce...
- DENIS LERRER ROSENFIELD Falsas clivagens
- GUSTAVO CERBASI O melhor pode sair caro
- CARLOS ALBERTO SARDENBERG Tolerância com a inflação
- Os EUA podem entrar arregaçando na Líbia? O mundo ...
- Fúrias e tsunamis - Alberto Dines
- BARRY EICHENGREEN A próxima crise financeira
- VINICIUS TORRES FREIRE Economia, o império do efêmero
- GAUDÊNCIO TORQUATO Maria-Fumaça e a 7ª economia
-
▼
março
(225)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA