O Estado de S Paulo
A inflação aumentou, a incerteza "está acima do usual" e, "nos mercados, a volatilidade e a aversão ao risco se elevaram" - avisa a ata do Copom ontem divulgada. Apesar disso, o tom tenta ser de confiança, mas há pontas soltas.
Como o comunicado divulgado logo após a última reunião do Copom - a segunda comandada pelo novo presidente Alexandre Tombini - foi surpreendentemente lacônico, havia a expectativa de que a ata contivesse avaliações novas sobre o futuro da inflação. Mas as novidades não vieram por aí.
Há pelo menos duas. A primeira delas é o aviso de que a inflação medida pelo IPCA em 12 meses continuará elevada neste e nos dois trimestres seguintes, mas, finalmente, no quarto trimestre do ano, convergirá para a meta, que é de 4,5%. Essa é uma boa aposta.
No entanto, se o Banco Central tem essa capacidade de antever o comportamento dos preços com pelo menos seis meses de antecedência, deveria ter percebido, já em meados de 2010, que haviam aumentado os riscos de desafinação entre oferta e demanda e de que a inflação ficasse solta demais.
Há certa probabilidade de que, apesar de sua situação privilegiada, o Banco Central não tenha mesmo percebido o bote da inflação porque se aferrara demais na indicação de que a atividade industrial já havia estancado a partir de abril de 2010. Nesse caso, leu erradamente os indicadores econômicos.
Se, no entanto, percebeu que o risco crescera demais e, em vez de agir, preferiu fazer o jogo do governo federal que não queria obstáculos relevantes à eleição da candidata oficial, deixou de cumprir seu dever e agora toda a economia está pagando por isso. De todo modo, a credibilidade do Banco Central sofreu algum prejuízo.
A outra novidade é a de que o Banco Central acena com novas medidas de política macroprudencial. Este é um eufemismo para maior restrição ao crédito de maneira a reforçar as decisões que foram tomadas em dezembro e que aparentemente não foram suficientes para estancar o excesso de crédito e de consumo de bens duráveis. Se fosse para trabalhar apenas com a política monetária, os juros teriam de subir muito mais. Para economizar pauladas, o Banco Central vai acionar ainda mais o freio do crédito.
A ata silencia sobre duas pontas soltas relacionadas com essa decisão. A primeira delas é a visível falta de sintonia dos bancos oficiais, especialmente o Banco do Brasil e a Caixa Econômica, cuja decisão não é contribuir para a "moderação da política de crédito", mas continuar na sua prática agressiva de conquistar fatias de mercado, especialmente na área dos financiamentos pessoais.
A segunda tem a ver com o comportamento do BNDES que, além de trabalhar contra a política monetária na medida em que concede financiamentos bilionários a juros favorecidos, acaba de receber outros R$ 55 bilhões do Tesouro para reforçar sua carteira de crédito. Ou seja, o BNDES continua tirando eficácia da política de juros, vai tirar eficácia da política do controle do crédito e, no entanto, o Banco Central ignora esse jogo contra.
Aparentemente, o Banco Central ainda vai ministrar mais algumas doses de alta de juros e complementar, como ficou avisado, com novas restrições ao crédito. Falta saber se esse mix será suficiente para estancar a inflação, uma vez que a variável fiscal (gastos excessivos do governo) não parece totalmente controlada.
Entrevista:O Estado inteligente
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