Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, março 28, 2011

Uma viagem útil :: Paulo Brossard

Muitos têm sido os comentários referentes à visita do presidente
norte-americano ao nosso país, em regra favoráveis. Não direi que
tenha sido o acontecimento do século, mas que foi útil para ambos os
países, e, dada a ampla publicidade que a cercou, permitiu que a nação
a acompanhasse em seus lances principais. A presença de sua família,
incluindo as filhas menores, deram a um ato de Estado alguma coisa
além de uma cerimônia estritamente protocolar. De outro lado, a
postura do governo brasileiro imprimiu ao evento o tom adequado. As
duas partes, a que visitava e a visitada, souberam dar ao fato
diplomático o devido relevo, sem exageros. Por isso prefiro dizer ter
sido útil o sucesso para ambas. Até onde posso transmitir minhas
observações, a despeito da natural brevidade, a acolhida foi
espontânea e suponho não exagerar se disser cordial.

Nesse dado imaterial residiu a conveniência e oportunidade da visita,
ainda que nada se dissesse, nem seria de mister, quanto à gaucherie
diplomática do maior e melhor dos presidentes de todos os tempos ao
escolher o iraniano Mahmoud Ahmadinejad como confrade privilegiado do
Brasil, fato que excedeu os limites do mau gosto. Ninguém ignora que
em política externa, como na política em geral, a amizade não é moeda
prevalente, ainda que não lhe faltem algumas gotas aqui e ali a
dar-lhe o perfume da nobreza; os interesses, de modo geral, são
predominantes e eles não são apenas relevantes, mas legítimos. De mais
a mais os interesses nacionais tanto são contraditórios como
coincidentes em doses variáveis, de modo que é plural o mundo das
nações e suas relações mudam sem parar; acasalar-se com o Irã, que
mantém uma quizília notória com o mundo ocidental, em termos
nucleares, não chega a ser indicativo de sabedoria, tanto mais quando
se ele é avançado em pesquisas nucleares, lembra a idade da pedra em
outros setores. Disso é amostra a pena de apedrejamento de mulheres...

Pois essa espécie de cicatriz que enfeiava a face da nação, sem que
uma palavra fosse dita, desapareceu como se uma esponja apagasse a
marca visível nas belas linhas do Itamaraty. Por fim, é de evidência
solar, cada Estado tem o dever de cuidar de seus interesses, sem
esperar que outros o façam. Outrossim, depois das visitas e em razão
delas, normalmente, aparecem os resultados, maiores ou menores. De
qualquer sorte, sem jogar fogos de artifício, não hesito em repetir
que considero útil a visita do presidente Obama à América Latina. Há
muita coisa a fazer e havendo, além do interesse, um pouco de
simpatia, o fazer fica mais fácil.

Não me furto de indicar, porém, que diplomata de alta qualificação,
que foi embaixador na China, Alemanha, Áustria e Estados Unidos,
escreveu que "a visita foi muito além do que poderia imaginar mesmo o
mais ardoroso propugnador da superação de ultrapassados antagonismos e
do lançamento de renovada aproximação"; e adiantando que "é cedo para
considerar esta visita histórica, não há como negar que ela
configura... uma quase revolução...". Tratando-se de opinião do
embaixador Roberto Abdenur, "a inevitabilidade de uma nova parceria" é
de ser considerada em sua inerente autoridade.

Para encerrar, já que comecei falando na gaucherie da escolha do Irã
para sócio privilegiado do Brasil pelo ex-presidente Luiz Inácio, não
posso silenciar sobre a nova e nítida orientação de sua sucessora,
exatamente em assunto envolvendo aquele país.

*Jurista, ministro aposentado do STF

FONTE: ZERO HORA (RS)

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