O GLOBO - 13/03/11
Velhos fantasmas rondam a Europa. Um deles, o do calote da dívida dos governos, ficou mais próximo na semana passada, com novos rebaixamentos da qualidade da dívida. As altas recentes do petróleo estão batendo em inflação, já alta. Na Inglaterra, o índice de preços ao consumidor deve chegar a 4,5%. Na Zona do Euro, está mais baixa, mas já se fala em alta de juros.
O nome desse fantasma é estagflação, porque os países não crescem, mas os preços, sim, por causa da alta das commodities em geral e, agora, do petróleo. A tragédia do Japão derrubou na sexta-feira o preço do barril, mas ele continua oscilando em torno de US$100.
Alguns países de alto risco, como a Irlanda, são diretamente atingidos pela crise na Líbia. O país em guerra civil é o maior fornecedor dos irlandeses. As dúvidas sobre a possibilidade de reestruturação da dívida de Portugal, Espanha e Grécia continuam. Primeiro, foi a S&P que rebaixou a Espanha. Agora, a Moody"s. Por mais que as agências tenham errado no passado, elas continuam produzindo efeitos na formação da taxa de risco dos países. Se a inflação continuar subindo, e o Banco Central Europeu decidir subir os juros, vai aumentar a dificuldade de financiamento de diversas economias.
O desemprego médio nos 27 países que compõem a União Europeia se mantém alto, em 9,5%. Na Espanha, o índice chega a 20,4%. Entre os jovens de até 25 anos, a taxa é assustadora: 43%. O aumento dos juros pode ser problemático para a Espanha porque o país ainda se recupera de uma bolha imobiliária. E cerca de 97% dos contratos de hipotecas no país foram feitos com juros flutuantes.
- A situação não é fácil. Alguns países já vivem claramente o risco de estagflação, como a Inglaterra. Eles tiveram queda de 0,5% do PIB no quarto trimestre de 2010, e a inflação em 12 meses está em 4%, o dobro da meta perseguida pelo Banco Central inglês. Com a alta dos preços do petróleo, a tendência é que a taxa continue pressionada nos próximos meses - diz Raphael Martello, da Tendências Consultoria.
Os juros da dívida portuguesa com vencimento em cinco anos bateram recorde ontem, chegando a 7,98% (vejam no gráfico). Isso, no mesmo dia em que o governo anunciou novas medidas de austeridade. Na Espanha, testes feitos pelo agência de risco Moody"s para medir a solvência do sistema financeiro apresentaram, num pior cenário, a necessidade de financiamento de 100 bilhões. O governo afirma que o valor é bem menor, de 15 bi. A discordância só aumenta as incertezas sobre o país.
- Tanto Espanha quanto Portugal se recusam a receber ajuda financeira por questões políticas. Mas o ideal seria as duas economias aceitarem recursos do FMI para dar tranquilidade às rolagens de dívidas, principalmente este ano. Isso não acontece, e o problema vai sendo empurrado com a barriga. O compromisso de corte de gastos assumido pelo governo português é tão alto que o mercado avalia que dificilmente será cumprido - explica Monica de Bolle, da Galanto consultoria.
O economista Alexandre Póvoa, da Modal Asset, lembra que os espanhóis tem 138 bilhões de dívida para rolar este ano.
- O calendário é pesado e qualquer deslize pode gerar problemas. A favor dos espanhóis está o fato deles serem a 4ª maior economia da Europa e ainda serem grau de investimento - afirmou.
Enquanto a Europa vive esse momento difícil, o Brasil continua surfando. O fluxo de capitais para o país nos primeiros dois meses do ano, em volume, superou o do ano passado inteiro. O economista José Alfredo Lamy, da Cenário Investimentos, acha que o Brasil ganhou um presente do mundo, que já dura oito anos: o aumento forte dos preços das commodities que o país exporta:
- Está entrando muito dólar no país há oito anos. Nossos preços de exportação subiram muito. Isso foi, em parte, pela política de Alan Greenspan de derrubar as taxas de juros de 6% para 1% e, depois, de Bernanke, que na crise derrubou de 5% para zero. As quedas produziram ondas de busca de alta rentabilidade dos ativos.
Ele acha, no entanto, que o Brasil não aproveitou o momento como devia e aposta que isso não durará para sempre:
- Nenhuma alta de commodities dura para sempre. Há um dia em que os preços caem. O Brasil teria que ter aproveitado esse presente e feito seu dever de casa. Mesmo com toda a ajuda externa, o país tem uma política fiscal expansionista, déficit em transações correntes, pressões inflacionárias e o câmbio está fora do lugar. Quando o dólar subir, as pressões inflacionárias também vão subir.
Quem olhasse o mapa do mundo na sexta-feira à tarde no "Financial Times" poderia conferir: todas as bolsas em queda, só a do Brasil em alta. Se olhasse o mapa-múndi com as informações sobre terremotos, veria de novo o Brasil como território livre do problema. É aproveitar toda a nossa sorte de sempre e o bom momento.
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Arquivo do blog
-
▼
2011
(2527)
-
▼
março
(225)
- Combaten con las mismas armas Joaquín Morales Solá
- Joaquín Morales Solá Un país que camina hacia el a...
- Uma viagem útil :: Paulo Brossard
- CELSO MING Alargamento do horizonte
- DENIS LERRER ROSENFIELD Fraternidade e natureza
- CARLOS ALBERTO SARDENBERG Pouca infraestrutura e m...
- Con amigos como Moyano, ¿quién necesita enemigos? ...
- Otra crisis con la Corte Suprema Joaquín Morales Solá
- Gaudencio Torquato A democracia supletiva
- VINÍCIUS TORRES FREIREFutricas público-privadas VI...
- Um itaparicano em Paris JOÃO UBALDO RIBEIRO
- Tão bela e tão bregaDANUZA LEÃOFOLHA DE SÃO PAULO ...
- Ferreira Gullar A espada de Damocles
- Miriam Leitão No mar,de novo
- Durou Caldas Poder autoritário
- Dora Kramer Itamaraty, o retorno
- Nerval Pereira Desafios na gestão
- JAMES M. ACTON Energia nuclear vale o risco
- GUILHERME FIUZA Obama e o carnaval
- Boris Fauto Século das novas luzes
- Fernando de Barros e Silva Yes, we créu!
- Ricardo Noblat Ó pai, ó!
- Luiz Carlos Mendonça de Barros A presidente Dilma ...
- Fabio Giambiagi O mínimo não é mínimo
- José Goldemberg O acidente nuclear do Japão
- Carlos Alberto Di Franco Imprensa e política
- PAULO RABELLO DE CASTRO Sobre os demônios que nos ...
- MAÍLSON DA NÓBREGA Tributos: menor independencia o...
- RUTH DE AQUINO Militantes, “go home”
- CELSO LAFER A ''Oração aos Moços'', de Rui Barbosa...
- YOANI SÁNCHEZ Letras góticas na parede
- MÍRIAM LEITÃO Afirmação e fato
- CELSO MING Perigo no rótulo
- ETHEVALDO SIQUEIRA A segurança está em você
- JIM O'NEILL O Japão e o iene
- VINICIUS TORRES FREIRE Chiclete com Obama
- SUELY CALDAS A antirreforma de Dilma
- FERREIRA GULLAR O trinado do passarinho
- JOÃO UBALDO RIBEIRO Vivendo de brisa
- DANUZA LEÃO Pode ser muito bom
- MARCELO GLEISER Conversa Sobre a Fé e a Ciência
- Riodan Roett: ''O estilo Lula foi um momento, e já...
- Dora Kramer Conselho de Segurança
- Merval Pereira O sexto membro
- Rubens Ricupero Decepção na estréia
- VINICIUS TORRES FREIRE Dilma está uma arara
- Míriam Leitão Cenários desfeitos
- Merval Pereira O Brasil e a ONU
- Guilherme Fiuza O negro, a mulher e o circo
- ENTREVISTA FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
- Nelson Motta -O tango do absurdo
- Míriam LeitãoAntes e depois
- Fernando de Barros e Silva Inflação na cabeça
- Merval Pereira Modelo aprovado?
- Roberto Freire Todo cuidado é pouco
- Celso Ming Não à inflação
- Dora Kramer Boa vizinhança
- Fernando Gabeira Obama no Brasil
- Rogério Furquim Werneck Instrumentos adulterados
- Energia - a chance de discutir sem soberba- Washin...
- Míriam Leitão Sol levante
- Merval Pereira A janela de Kassab
- Dora Kramer Pela tangente
- Celso Ming -Mudar o paradigma?
- Alberto Tamer Japão tem reservas anticrise
- Roberto Macedo Um filme ruim só no título
- Adriano Pires O monopólio da Petrobrás no setor el...
- Eugênia Lopes Jetom de estatais faz ministros esto...
- Carlos Alberto Sardenberg Eles vão sair dessa!
- Demétrio Magnoli A maldição do pré-sal
- Fábio Giambiagi A lógica do absurdo
- O presunçoso gerente de apagões veste a fantasia d...
- VINICIUS TORRES FREIRE Síndrome do pânico e do Japão
- Yoshiaki Nakano Para aprimorar o sistema de metas
- Merval Pereira Acordo no pré-sal
- Celso Ming Mais incertezas
- Dora Kramer Inversão de culpa
- Paul Krugman Fusão macroeconômica
- Rolf Kuntz Emprego, salário e consumo
- José Nêumanne A caixa-preta da Operação Satiagraha
- Vinícius Torres Freire-A importância de ser prudente
- Míriam Leitão-Efeito Japão
- Raymundo Costa-A força do mensalão no governo Dilma
- Fernando de Barros e Silva -Liberais de fachada
- Merval Pereira Começar de novo
- Celso Ming - Risco nuclear
- Dora Kramer Em petição de miséria
- José Serra Cuidado com a contrarreforma
- José Pastore A real prioridade na terceirização
- J. R. Guzzo Beleza e desastre
- Paulo Brossard Orçamento clandestino
- Marco Antonio Rocha Só indiretamente dá para perce...
- DENIS LERRER ROSENFIELD Falsas clivagens
- GUSTAVO CERBASI O melhor pode sair caro
- CARLOS ALBERTO SARDENBERG Tolerância com a inflação
- Os EUA podem entrar arregaçando na Líbia? O mundo ...
- Fúrias e tsunamis - Alberto Dines
- BARRY EICHENGREEN A próxima crise financeira
- VINICIUS TORRES FREIRE Economia, o império do efêmero
- GAUDÊNCIO TORQUATO Maria-Fumaça e a 7ª economia
-
▼
março
(225)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA