Entrevista:O Estado inteligente

sábado, outubro 04, 2008

Modelo perverso

Especialista em questões agrárias, o ex-presidente do Incra Xico Graziano afirmou, em entrevista à rádio CBN, que o ministro Carlos Minc levantou a sujeira sob o tapete ao dizer que os assentamentos são a maior causa do desmatamento na Amazônia. É verdade que, pressionado por patrulhas de sem-terra incrustadas no governo, o ministro do Meio Ambiente desdisse o que dissera, e admitiu rever a lista do Ibama que reconhece nos assentamentos uma ponta de lança dos desmatamentos na região. Mas, mesmo com o posterior recuo de Minc, a divulgação do ranking de desmatadores, patrocinada por um ministro insuspeito aos olhos do movimento ambientalista — pelo menos era, até assumir —, foi um ato positivo para remover o biombo que procurava esconder — com tecidos de tons ideológicos que se confundem com as cores de movimentos radicais — uma realidade já denunciada pela imprensa e por técnicos em questões fundiárias.

Esse véu com que se procura proteger os assentamentos das denúncias de devastação oculta também outras idéias que põem a Amazônia sob risco de danos irreversíveis.
É o caso do conceito, enraizado na política agrária oficial, de que floresta é terra improdutiva — o que corresponde a dar sinal verde, sem trocadilho, a ocupações em áreas a serem protegidas do desmatamento.

Da polêmica aberta pela lista do Ibama salta pelo menos uma evidência: a de que preferências ideológicas não podem adiar a revisão do programa de assentamentos em curso. Até porque o modelo atual se revela duplamente perverso — com os assentados, por, quase sempre, não livrá-los da exploração, e com o meio ambiente, pelas óbvias agressões cometidas contra ele.

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