Só as ações anunciadas por autoridades européias, nos últimos dias, envolvem mais de 1 trilhão. O governo americano já havia decidido aplicar US$ 700 bilhões na recuperação de bancos e na absorção de créditos de baixa qualidade, também conhecidos como ativos podres ou tóxicos. Se a esse montante for somado o valor das intervenções já realizadas no mercado americano, o resultado ficará bem acima de US$ 1 trilhão.
Mas a amplitude extraordinária das ações de socorro não é a única novidade nem, provavelmente, a mais importante em termos históricos. Na crise iniciada em 1929,o nacionalismo exacerbado e o isolacionismo foram respostas comuns. Desta vez, a coordenação e a cooperação tendem a prevalecer, embora as primeiras reações à crise do subprime tenham sido isoladas e dissonantes. Além do mais, o compromisso dos governos de usar todos os meios, incluída a capitalização de bancos privados com dinheiro público, mostra um pragmatismo raramente encontrado - talvez inédito - na história das políticas econômicas.
Não há soluções locais para a crise atual, tem repetido o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn. Ele voltou a recitar esse mantra, ontem, na abertura oficial da assembléia anual de governadores do FMI, ontem mesmo encerrada. Mas, desta vez, com um tempero de otimismo: as coisas começam a mudar. Em uma semana foi possível avançar de uma ação coordenada dos bancos centrais, com o corte simultâneo de 0,5 ponto porcentual dos juros básicos, até o compromisso do G-7 e o plano de ação combinado pelos governantes da zona do euro.
De certa forma, o G-7 forçou a ação cooperativa da maioria dos governos europeus. Três membros do grupo são as maiores economias da União Européia - Alemanha, Reino Unido e França. As novidades anunciadas no domingo e na segunda-feira não passam, afinal, de especificações dos compromissos assumidos pelos sete grandes na sexta-feira e propostos ao mundo como exemplos das políticas necessárias. Essas mesmas iniciativas foram endossadas, no fim de semana, pelo Comitê Interino Monetário e Financeiro do FMI, seu órgão mais importante de representação política, e pelo G-20, formado pelas maiores economias desenvolvidas e emergentes.
Fora do mundo rico, a liderança nas ações corretivas foi assumida pelo Brasil, com várias iniciativas do Banco Central para dar liquidez ao mercado e descongelar o crédito. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mostrou compreender a importância dessas ações ao dar carta branca à autoridade monetária.
Mas o esforço para a solução dos problemas, como observou ontem Strauss-Kahn, apenas começou e há um longo caminho pela frente. A primeira necessidade é restabelecer no setor financeiro a confiança indispensável para o funcionamento normal do sistema de crédito e do mercado de ações. Mas os governos terão também, dentro das possibilidades de cada um, de usar as políticas monetária e fiscal para estimular o consumo, o investimento e a produção.
Os países mais preparados para sustentar a atividade econômica, a curto prazo, são os emergentes. No ano passado, esses países garantiram cerca de dois terços do crescimento econômico mundial. No próximo, serão responsáveis por quase cem por cento dessa expansão. O novo peso dessas economias é outra novidade do quadro atual - e uma das mais importantes e mais alvissareiras.