Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, outubro 22, 2008

Risco da tradução Miriam Leitão

Copiar idéias de aumento de gasto público ou compra de ações de empresas pode ser desastroso.

As fontes de financiamento do BNDES estão secando. O governo poderia aumentar o investimento em R$ 21 bi em 2009 se não tivesse elevado tanto o gasto com o funcionalismo. Dez empresas de construção tiveram, somadas, um lucro líquido de R$ 1,2 bilhão só no segundo trimestre.

A Economática fez, a pedido da coluna, a lista com os maiores lucros das empresas de construção. Só o lucro líquido do segundo trimestre já mostra que elas não precisam de socorro do governo, muito menos que o BNDES vire acionista. Vejam a tabela com os dez maiores lucros. A lista completa está no blog.

O BNDES precisou, este ano, de dois aportes de capital do Tesouro. Ao todo, R$ 21 bilhões. O banco tem sido usado como solução para todos os problemas de todos os setores. Agora, a idéia é que ele vire sócio das empresas imobiliárias.

Elas não precisam, e o banco tem limites.

— O BNDES tem três fontes de capitalização: o FAT, a emissão de debêntures e a venda de ações. As três estão minguando. O FAT terá, em 2010, o primeiro déficit de sua história. Captar agora através de debêntures está difícil. E neste momento, se o banco vender ações, derruba mais o mercado — lembra o economista político Alexandre Marinis, da Mosaico Economia Política.

O governo aumentou o gasto público com o funcionalismo, explica Marinis.

— Em 2003 e 2004, o governo gastou com funcionalismo federal 4,4% do PIB.

Agora vai gastar 5%. Esta diferença de 0,6% do PIB, se não tivesse sido comprometida com pessoal, poderia significar R$ 21 bilhões de investimento público — diz Marinis.

Nos últimos anos, o governo foi aprovando despesas fixas e agora que o país precisa que o governo invista mais, para compensar a perda do investimento privado, ele está engessado.

Os aumentos de salários concedidos de forma escalonada e as novas contratações vão aumentar a folha até 2012. Serão mais R$ 40 bilhões.

A fórmula inventada para reajustar o salário mínimo pode inflar ainda mais os gastos com pessoal e com previdência.

— O salário mínimo é reajustado pela soma da variação do PIB de dois anos antes com a inflação corrente.

Isso significa que, em 2009, o aumento do salário mínimo será de pelo menos 12%: os 5,4% de crescimento do PIB de 2007 e mais a inflação em 12 meses, que estará em março acima do que o governo previu no orçamento. O salário mínimo deve ser maior do que os R$ 465 previstos no orçamento.

É pouco? Claro que é. Mas pense no impacto que terão 5% de aumento real na despesa previdenciária com o país arrecadando menos! — conta Marinis.

É preciso cuidado com a tradução, para a realidade local, das idéias e propostas que andam fazendo sucesso em outros países nestes momentos de crise. Algumas dessas idéias não viajam bem. Aqui, o Tesouro não emite moeda de referência mundial, nem o país tem financiamento externo para cobrir os déficits. No governo, há quem entenda que o que está acontecendo no mundo é uma espécie de licença para matar... o contribuinte, no caso.

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