Entrevista:O Estado inteligente

domingo, outubro 12, 2008

À procura de César Celso Ming

Crise financeira após crise financeira demonstrou que tanto a moeda como os títulos de dívida pública do país epicentro da crise despencam nos mercados.

Mas a crise atual mostra o contrário. O dólar, tão combalido antes da tremedeira, agora cavalga por cima do lixo. E o ativo mais procurado do momento, junto com o dólar, são os títulos do Tesouro dos Estados Unidos (T-Bonds). Por que essa anomalia?

A primeira explicação é a de que não há no mundo nenhuma outra moeda capaz de desempenhar a função de reserva internacional de valor. E, apesar de tudo e de todos, os T-Bonds continuam sendo o paradigma de ativo seguro. Pintou pânico nos mercados, todos correm para os refúgios de sempre, correm para o dólar e correm para os T-Bonds.

Em setembro, a top model brasileira Gisele Bündchen tomou a decisão de amarrar todos os seus contratos não mais em dólares, mas em euros. Hoje deve ter-se arrependido do que fez. Apenas nas últimas três semanas, o euro caiu 9% diante do dólar. Quanto mais se aprofunda, mais verde é a crise. Gisele deve estar perdendo dinheiro mais do que precisaria.

Os Estados Unidos estão carregando dois imensos déficits, o comercial (de US$ 707 bilhões) e o orçamentário (de US$ 407 bilhões); são hoje um país de poupança quase zero; seu presidente não pára de fazer lambanças de toda ordem; suas instituições reguladoras deixaram que tudo acontecesse; são de longe o maior devedor do mundo (US$ 9,6 trilhões). No entanto, apesar disso e de muito mais, continuam emitindo a moeda mais confiável do planeta.

Mas por quê? A resposta a essa pergunta não está na área econômica, mas na política. Bem ou mal, os Estados Unidos têm comando. E é exatamente isso que falta à Europa. Um pouco por opção e mais por incapacidade de seus governos, a Europa é quase uma insignificância geopolítica. Não consegue tomar decisões estratégicas e se enreda em questiúnculas paroquiais. Afinal, o que se pode esperar da União Européia, um gigante econômico, se seus membros levaram nada menos que 30 anos para decidir o que é chocolate, do ponto de vista legal? - observava sexta-feira a Agência Bloomberg.

Sábado passado, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, reuniu os quatro cachorros grandes da União Européia: França, Alemanha, Inglaterra e Itália. Na pauta, a decisão de criar um pacote de 300 bilhões de euros para salvar os bancos do bloco. Mas não houve acordo. Saiu cada um por si, ao contrário do que determinava a postura clássica dos quatro mosqueteiros.

Essa crise já criou um sem-número de pacotes destinados a resolver o problema. Mas a confiança não se restabeleceu. Não se restabeleceu porque não foi dado o único passo que pode acabar com o pânico e esse passo, se vier, não será de natureza econômica; será de natureza política.

"De quem é a efígie que está nesta moeda?", perguntou Jesus aos fariseus que o questionavam sobre a legitimidade do recolhimento de impostos. "É de César", responderam. "Pois dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus", sentenciou Cristo.

Emissor de uma moeda forte precisa de César e não de uma comissão de trabalho.

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