Como se tudo estivesse perfeitamente definido e não faltasse ainda resolver o principal: as eleições nas três principais capitais dos Estados que reúnem quase a metade dos 130 milhões de eleitores brasileiros.
A oposição dá de barato que o presidente Luiz Inácio da Silva foi derrotado em São Paulo, no Rio e Minas Gerais, e se enche de repentina coragem para confrontar-lhe a popularidade com críticas diretas e ironias abertas sobre a certeza exagerada de Lula no tocante à transferência de votos.
O governo de seu lado, representado pelo PT, age como quem entrega os pontos e já abre a discussão sobre os rumos da campanha de 2010, na evidente tentativa de reduzir os efeitos do entusiasmo oposicionista.
Ato contínuo à divulgação dos resultados do primeiro turno, adversários internos da candidatura de Dilma Rousseff, como o ministro da Justiça, Tarso Genro, saíram defendendo o nome da ministra para presidente e, logo depois, o PT marcou uma reunião do Diretório Nacional para avaliar os erros cometidos em 2008 na perspectiva de corrigi-los para 2010.
Tudo isso é certeza de que a oposição está mais forte e o governo mais fraco para o embate presidencial? Pode não ser, mas parece que é.
Se for, revelam-se ambos os contendores precipitados e, sobretudo, maus alunos da recente lição do primeiro turno na forma das surpresas produzidas pelo eleitorado: em matéria de resultado de urnas, convém confiar desconfiando e nunca, jamais, em tempo algum, pôr os carros na frente dos bois.
Descontado o empate no Rio, o cenário de fato parece definido em São Paulo e Belo Horizonte. É difícil mudar o quadro da derrota do PT com Marta Suplicy e do fracasso da aliança mineira avalizada por Lula? Dificílimo, porém, não impossível.
Nas duas capitais, enquanto se reduziu a diferença entre os oponentes, aumentou o tamanho do salto dos sapatos dos que estão com a sensação da vitória assegurada. Um campo fértil, como se viu no último dia 5, para tropeços.
Faltam apenas dez dias. Não custa lembrar, contudo, que Gilberto Kassab passou Marta na hora do voto, Leonardo Quintão atropelou Márcio Lacerda em ínfimos cinco dias e Fernando Gabeira entrou na competição na última semana. Isto faz da viravolta uma questão automática? Não, mas significa que o jogo só acaba quando termina.
Aécio rebate
O governador de Minas, Aécio Neves, discorda em gênero, número e grau da análise feita aqui a respeito da derrota nessa eleição de teses políticas "fantasiosas", entre as quais foi incluída sua proposta de aproximação entre PT e PSDB.
Aécio refuta termos do artigo considerados "injustos" - em particular a expressão "truque engendrado" usada, no entendimento dele, para definir a idéia da aliança. Aproveita para reiterar sua fé em "vitórias políticas" construídas não necessariamente a partir de "vitórias eleitorais" e solicita obséquio para reapresentar sua tese.
"Desde que assumi o governo de Minas venho defendendo a crença de que devemos trabalhar pela criação de uma convergência, mais ampla, de centro-esquerda, capaz de garantir as condições para a realização das reformas que o País aguarda há tanto tempo.
"Acredito, sim, que existem identidades entre setores do PSDB e do PT que, se explicitadas, podem contribuir para a criação de um novo ambiente político. Acredito que precisamos romper com um maniqueísmo mesquinho que domina a cena política atual, no qual um partido se opõe necessariamente ao outro pautado, muitas vezes, apenas por uma lógica de alternância de poder.
"Nunca pretendi, como você disse, a ?convergência total?, até porque isso seria tão artificial quanto autoritário. Nunca defendi a anulação das divergências políticas do debate nem a fusão dos partidos.
"Nunca carimbei o embate político como ?algo pejorativo? nem propus a busca pelo ?consenso permanente?. Defendo que as diferenças políticas e partidárias permaneçam claras. Mas defendo também que sejamos capazes, em nome do País, de identificar e aprofundar nossas semelhanças ao invés de apostar apenas em aprofundar as nossas diferenças.
"A candidatura de Márcio Lacerda em BH encarna esse sentimento que não é só meu e não se manifesta apenas em Minas.
"Independente do resultado eleitoral em questão, continuarei, nos próximos anos, como vinha fazendo nos últimos, externando a minha crença: precisamos criar uma convergência mais ampla que, mantendo as identidades e as reais diferenças entre os partidos, reúna os setores mais progressistas da sociedade e nos permita criar condições políticas para o Brasil avançar com mais agilidade nas reformas de que tanto precisa."