Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, outubro 17, 2008

Onde estão os clientes? Eric Wilson *

O declínio e queda das economias globais não impedem que o preço de uma camiseta de Balmain seja US$ 1,5 mil na Christophe Decarnin. É sua camiseta mais barata. Como ocorre com todas as camisetas de algodão, a única característica que a distingue são alguns furos estrategicamente colocados. Camisetas com detalhes brilhantes custam US$ 3 mil.

Uma diretora de moda de uma das mais caras lojas nova-iorquinas, que comprava peças das coleções de Paris este mês, indagou se seria prudente fazer um estoque de produtos de Balmain depois de visitar o showroom da companhia, onde os preços dos trajes de festa vão de US$ 12 mil a US$ 22 mil e as jaquetas custam cerca de US$ 5 mil. Assim como quase todos os varejistas, ela queria levar uma das etiquetas da moda mais quentes da cidade, mas agora um traje completo custaria a modestos contribuintes de um plano de pensão definido o equivalente a seus prejuízos com as bolsas na semana passada.

Como as Semanas da Moda de primavera (março a junho) coincidiram com o colapso financeiro deste outono (no hemisfério norte), os donos de lojas enfrentam um dilema em parte econômico e em parte demográfico: de que modo convencerão os compradores de bens de luxo a abrir as carteiras quando até os ricos dão sinais de que preferem cortar gastos? E como pretendem planejar para a primavera, quando as coleções do outono, agora nas lojas, parecem proibitivas? As vendas do mês passado caíram 15,8% no varejo de luxo da Neiman Marcus, que inclui as lojas Neiman Marcus e Bergdorf Goodman; 10,9% na Saks Fifth Avenue e 9,6% na Nordstrom, declínios que surpreenderam até os executivos mais experimentados. Na década passada, os artigos de luxo pareciam intocados pelas crises econômicas.

Em Paris, quando os executivos do varejo começaram a receber relatórios de vendas das lojas do seu país de origem - em alguns casos de hora em hora e na maioria muito ruins -, os comportamentos tornaram-se mais cautelosos. Algumas lojas anunciaram aos estilistas que atrasariam os pedidos da primavera. "Vocês precisam se colocar na pele dos clientes", disse Pete Nordstrom, um dos presidentes da Nordstrom. "Nós precisamos ser melhores para conquistar sua empresa."

Burt Tansky, diretor executivo da Neiman Marcus, observou, já em março, que possíveis clientes haviam começado a se retrair devido a temores com a economia. Tansky prevê que a temporada de outono se encerrará com margens menores e sobras maiores dos estoques do que o normal. (O que não dissuadiu Neiman de enviar seu Livro de Natal, na semana passada, um exercício anual de ofertas excessivas que inclui um estábulo para cavalos puro-sangue de US$ 10 milhões em Kentucky, acompanhado de uma bolsa Prada de US$ 1.995).

Vários varejistas disseram que as vendas de artigos caros, principalmente roupas, praticamente pararam no fim de setembro. Nos desfiles em Paris, alguns executivos comentaram que os pedidos sofreriam cortes de 10% em geral, o que teve o efeito de uma ducha gelada para as editoras de revistas na platéia, porque os estilistas muito provavelmente reduzirão sua publicidade no próximo ano.

Em muitos sentidos, nem os estilistas nem os varejistas prevêem alguma melhora este ano. Prevê-se que a crítica temporada de compras de fim de ano será uma das piores desde a última grave recessão dos anos 80, antes do boom dos artigos de luxo que inspirou milhões de clientes a sonhar com presentes como uma bolsa Louis Vuitton ou Coach em lugar de artigos de cozinha. As conseqüências das oscilações dos mercados, na semana passada, não eram tão evidentes em Nova York quanto talvez em outras partes do país; a Barneys New York e a Bergdorf Goodman, por exemplo, fervilhavam na sexta-feira, com compradores estrangeiros que aproveitavam o câmbio ainda favorável. Mas em outros dias na semana passada, e na segunda-feira desta, as lojas ficaram quase vazias.

Uma mulher parou em frente à Barneys, na sexta-feira, com duas sacolas da loja. Quando perguntamos o que havia comprado, respondeu: "Nada. Estou devolvendo tudo".

Sim, os números da Louis Vuitton ainda parecem satisfatórios, com aumento de 12% na semana passada, conforme Jean-Jacques Guiony, diretor financeiro da Louis Vuitton, assegurou a analistas céticos em uma teleconferência. Mas, enquanto Wall Street elimina dezenas de milhares de empregos, e com a perspectiva de magras bonificações financeiras, a gente se pergunta se haverá membros suficientes da família real saudita para sustentar as lojas dos estilistas na Quinta Avenida ou na Madison.

*O autor escreve para o The New York Times

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