Já é maxidesvalorização. De 26 moedas emergentes, o real foi que mais perdeu: 35%. Desde agosto, se a conta do PIB for feita em dólar, é como se o Brasil tivesse perdido US$ 309 bi. Parte é efeito dos derivativos dos exportadores, um problema que ninguém sabe a dimensão. Um exportador me disse o seguinte: “O BC pede serenidade como o capitão do Titanic mandava a orquestra tocar.” O Banco Central fez ontem várias operações no mercado de câmbio e não reduziu a pressão do dólar. Quanto mais o dólar sobe, mais os exportadores que fizeram operações especulativas com câmbio perdem dinheiro.
— O exportador estava apostando a favor da moeda brasileira. Quem está ganhando dinheiro são os bancos estrangeiros. Além disso, os exportadores não estão conseguindo se financiar para produzir; a exportação vai parar — disse o presidente de uma das maiores empresas brasileiras.
O BC, segundo me garantiu ontem um dos seus dirigentes, não tem qualquer compromisso em defender a queda do dólar. Não está fazendo leilões para evitar que o dólar suba, mas sim para suprir a falta das linhas de crédito internacionais para o comércio. O problema é que não tem adiantado.
Nathan Blanche, especialista em câmbio, acha que o BC tem que vender dólar líquido, em operações direcionadas aos exportadores.
Com mais oferta, o dólar pode cair, reduzindo a cotação e o prejuízo das empresas.
O BC brasileiro mudou. Seguiu o exemplo de outros bancos centrais, ficou mais ativo. Até a semana passada, ele estava usando só medidas clássicas, como liberar compulsório.
Esta semana, ele entrou na briga para debelar a crise, que é definitivamente global e tem seu capítulo brasileiro.
Antes, negociou dentro do governo, e com seu departamento jurídico, formas de dar aos dirigentes mais proteção contra riscos jurídicos. Outros dirigentes, em outras crises, assumiram riscos que acabaram se transformando em processos que até hoje se arrastam. Eles querem atuar mais efetivamente, e a exemplo dos bancos centrais de outros países, fugindo um pouco do estreito figurino, mas com um marco legal bem definido. Por isso foi feita a Medida Provisória.
— Não podemos permitir que uma crise sistêmica seja importada. O BC tem que agir com todos os mecanismos de que dispõe — disse uma fonte do governo que acompanha a crise.
O BC vai financiar bancos pequenos, dar dólares a empresas exportadoras e mudar os papéis das empresas de leasing. Para ajudar os bancos pequenos, que ficaram sem crédito interbancário desde que a redução da oferta de crédito chegou ao Brasil, o BC terá que aceitar, como garantias, créditos consignados, financiamentos de automóveis e outros recebíveis que estão nas carteiras dos bancos de pequeno porte. Em troca, dará a esses bancos dinheiro do redesconto.
O redesconto é sempre uma taxa punitiva, tanto que as instituições, quando podem, fogem dele, como o cidadão comum foge do cheque especial. Só que é preciso saber a que taxa o BC pode aceitar esses papéis. A MP deu ao Conselho Monetário Nacional a possibilidade de “precificar” os ativos.
As debêntures das empresas de leasing foram definidas como “extravagantes” por uma fonte do governo. São papéis que passam apenas pela CVM, e não pelo BC. Têm um processo de lançamento lento e de financiamento difícil.
Agora, serão trocadas por Letras de Arrendamento Mercantil. Ao criar os novos papéis, o BC agiu preventivamente, segundo contam no governo, para evitar que esses papéis passem a ser vistos como arriscados.
Mas o grande nó dado na economia é no câmbio. Ele está tendo efeitos concretos na economia. Em tempos normais, a um preço destes, o exportador poderia estar nadando de braçada, fazendo suas exportações ao preço com o qual sonhou. O problema é que ele não tem linha para financiar a produção.
— As operações de fechamento de câmbio sempre funcionaram como uma bicicleta.
A gente fechava o câmbio para produzir e, assim, pensar na etapa seguinte — explica um exportador.
Mas o pior é que como aconteceu com a Sadia e com a Aracruz, as empresas exportadoras compraram um complexo produto financeiro que lastreou mais as operações do que se imagina.
Dois operadores do mercado me explicaram que os bancos ofereciam às empresas empréstimos em que os juros seriam menores se ao mesmo tempo a empresa também fizesse uma opção de câmbio.
Outras coisas que nada têm a ver com isso estão parando. No mercado imobiliário, ninguém faz novo investimento.
— Não há decisão de investimento.
Está todo mundo esperando passar o furacão, coberto com o cobertor até o olho — disse Eduardo Zaidan, diretor de Economia do Sinduscon-SP.
Na Associação das Agências de Viagem, Leonel Rossi, diretor de Assuntos Internacionais, disse que os turistas estão pedindo tempo.
Está tudo em compasso de espera.
Em outros setores que a coluna ouve é a mesma resposta.
O que foi feito no passado está sendo concluído, fábricas serão inauguradas, mas nada se começa e tudo que pode está sendo suspenso. Isso pode aprofundar a crise. É só uma continha arbitrária, mas o PIB brasileiro era, em agosto, de US$ 1,5 trilhão; hoje é de US$ 1,19 trilhão. O país está mais pobre, e não é apenas uma questão contábil.
Entrevista:O Estado inteligente
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