Nos bancos frágeis o dinheiro virou pó e nos sólidos, sumiu. Todos bateram em retirada. Quem tinha reservas em caixa tratou de guardar, esperar por um cenário mais confiável e lucrar mais adiante, correndo menor risco de calote. O crédito ficou escasso nos países ricos, nos emergentes e nos pobres. Ninguém escapa.
No Brasil, o crédito para exportação caiu pela metade. No dia 22 de setembro, os exportadores conseguiram fechar só 35% do valor que normalmente financiam. E ruiu o argumento de que o ingresso de dólares de investimento compensa a queda no saldo comercial: segundo o Banco Central, no dia seguinte à falência do Lehman Brothers, empresas e investidores estrangeiros remeteram para fora do País US$ 1,3 bilhão, quase sete vezes mais do que o habitual. Ou seja, a mão foi invertida e o dinheiro mais sai do que entra.
Em situação mais confortável do que os americanos e europeus, os bancos brasileiros também se fecharam ou ficaram mais seletivos - esperam a situação estabilizar para voltar ao mercado de crédito como antes. Com isso, as empresas com planos de investimento tendem a recuar, adiar seus projetos. Afinal, como investir sem crédito? O financiamento para consumo igualmente reflui - os juros esticaram e os prazos encurtaram. Quem pretendia comprar um automóvel ou uma geladeira desistiu ou adiou. Isso é desaceleração econômica, por isso reduziram as previsões de crescimento para 2009. E economistas estrangeiros dizem que a crise está apenas começando!
Este cenário preocupa o presidente Lula. Ele até parou de transferir o problema ao colega Bush e passou a reunir diariamente a equipe econômica para avaliar os efeitos da crise no Brasil. Não estava nos planos de Lula nem dos brasileiros uma crise tão aguda. Ele teme que seus efeitos sobre o crescimento econômico, o desemprego e a renda salarial prejudiquem sua popularidade em alta e a ambição de fazer seu sucessor em 2010. Por isso ordenou aos ministros esta semana: "Cuidem do crédito, o Natal está aí."
Mas cuidar de suprir o que está escasso implica sacrifícios que o governo Lula parece não estar disposto a assumir. Com as torneiras do crédito no exterior fechadas e no Brasil, mais seletivas, restou o BNDES para financiar a produção e os novos investimentos e o Banco do Brasil no suporte ao comércio exterior, ao capital de giro das empresas e ao crédito agrícola. Só que o volume de crédito necessário para financiar o crescimento de 4% é muitíssimo mais elevado do que dispõem os dois bancos.
O governo já injetou no BNDES R$ 5 bilhões de um total de R$ 15 bilhões prometidos e pretende transferir mais R$ 7 bilhões do FGTS. O Banco do Brasil sozinho não é capaz de suprir as demandas que lhe foram confiadas. Lula não quer que falte dinheiro para investimento nem para as obras do empacado PAC, nem para empresas, agricultores, exportadores, o petróleo do pré-sal e quem mais precisar. E também quer continuar aumentando gastos correntes do governo, sem controle. Age como se não houvesse crise, como se a esperada recessão na Europa e nos EUA passasse ao largo do Brasil.
Devedor em dólares, o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, agiu rapidamente. Sabe que a arrecadação tributária vai cair e tratou de cortar o orçamento do Estado, suspender compras, novos investimentos e contratação de pessoal.
O governo federal também vai enfrentar queda na receita tributária e sua responsabilidade é maior porque qualquer decisão errada prejudica 180 milhões de pessoas. Caberia a Lula agir preventivamente, com cautela. Listar prioridades, suspender créditos do BNDES para outros países e cortar despesas desnecessárias ou que podem ser adiadas.
Se não fizer isso rapidamente, o dinheiro de crédito pode não faltar neste Natal, mas o próximo pode ser amargo para todos os brasileiros, inclusive ele.